Reconfigurar mundos: vozes indígenas em destaque no FOLIO

No Festival Literário Internacional de Óbidos, em Outubro de 2024, imaginaram-se futuros possíveis através de múltiplos cruzamentos entre conhecimento ancestral e literatura contemporânea.

Foi um privilégio para a Azimuth World Foundation participar na «Roda de Configurações de Mundos». Um encontro pioneiro, antes de mais pelas vozes que escolheu destacar, e que, infelizmente, ainda tão raramente ocupam este lugar no centro dos encontros literários mais convencionais. Integrado no módulo Casa Floresta do FOLIO+, este diálogo tomou como ponto de partida, segundo a curadora Candela Varas, a «literatura com clara conexão com o ancestral, com a comunidade e com a natureza, narrada sobre o eixo da interdependência de todas as formas viventes orgânicas e inorgânicas».

Sentimo-nos profundamente honrados por partilhar este espaço com um grupo muito especial de líderes indígenas, escritores e pensadores: Verenilde Pereira, Kaká Werá, Cebaldo Inawinapi, Ellen Lima Wassu, Elvis Guerra, Carola Saavedra, Patricia Vieira, Juan Carlos Galeano, Marta Lança e Candela Varas.

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Crédito: FOLIO

Cosmogonias indígenas para Reimaginar Mundos

A Roda de Configurações de Mundos foi mais do que uma discussão literária — foi um exercício coletivo que apelou ao reimaginar de mundos, questionando visões dominantes, e procurando outras vias através das possibilidades abertas pelas cosmogonias e práticas indígenas. Uma abordagem muito alinhada com o trabalho que temos desenvolvido na Azimuth, no sentido de amplificar as vozes indígenas e de apoiar narrativas que sejam verdadeiramente autodeterminadas.

Ao propôr uma reflexão e criação coletivas, este momento inspirou-se em práticas através das quais as comunidades indígenas mantêm vivos os seus sistemas de conhecimento desde tempos imemoriais.

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Crédito: FOLIO

Connecting the Dots: Quatro conversas marcantes

A nossa equipa aproveitou a visita ao FOLIO para conversar com quatro participantes da Roda, que sem dúvida representam a profundidade e a diversidade de perspetivas presentes no festival. Conversas nas quais exploramos como o conhecimento tradicional e outras formas de ver e viver o mundo podem ser a chave para enfrentar as crises da contemporaneidade.

Clique no nome do convidado para encontrar a versão em podcast e a versão escrita de cada entrevista.

Ellen Lima Wassu guia-nos numa reflexão profunda sobre descolonização, reparações e como encontrar alegria na luta. Artivista, autora, poeta, Ellen fala-nos sobre as muitas formas que assume a resistência indígena, incluindo enquanto alegria ela mesma, esse gesto radical.

Kaká Werá é um pioneiro da literatura indígena no Brasil, determinado em preservar e partilhar o conhecimento tradicional há mais de três décadas. Ao longo dos 16 livros que publicou desde então, tem vindo a demonstrar como a sabedoria ancestral nos pode orientar na resolução dos mais prementes desafios que enfrentamos hoje. A sua obra mais recente, «Tekoá», explora a filosofia Tupi Guarani do Bem-Viver — um conceito cada vez mais relevante para uma humanidade que questiona a sustentabilidade das suas escolhas.

Verenilde Pereira, jornalista, investigadora e autora afro-indígena, é uma figura incontornável das letras com origem na Amazónia brasileira. Nesta conversa fala-nos do ato político contra os sistemas de dominação que é o motor da sua escrita. O seu romance “Um Rio Sem Fim”, recentemente redescoberto e aclamado, retrata as comunidades amazónicas em toda a sua complexidade, estilhaçando os limites das narrativas dominantes, ao mesmo tempo que põe em primeiro plano a riqueza das cosmogonias tradicionais.

Juan Carlos Galeano é poeta e investigador. Nasceu na Amazônia colombiana, e tem dedicado a sua vida a documentar e a estudar cosmogonias indígenas e conhecimento tradicional sobre o meio ambiente, temas que atravessam a nossa conversa. O seu livro «Amazonía», recentemente traduzido para o português, mostra como as perspetivas amazónicas podem transformar a nossa relação com o mundo natural. Um aspecto que não deixou de vincar durante a entrevista. Afinal, estas formas de conhecimento surgem como cada vez mais indispensáveis ante a crise ecológica que atravessamos.

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Crédito: FOLIO

Apoiar a soberania narrativa das comunidades e autores indígenas

A Azimuth World Foundation apoiou a realização da Casa Floresta no FOLIO, uma parceria que reflecte o nosso compromisso em promover espaços onde as vozes indígenas possam partilhar os seus conhecimentos nos seus próprios termos. As comunidades indígenas não são apenas portadoras de histórias — albergam e nutrem formas de ver o mundo que nos desafiam, e que nos mostram caminhos para que haja um futuro para a espécie humana. Ao criar esta plataforma, o Festival FOLIO mostrou como vozes indígenas podem chegar até públicos mais amplos, mantendo intacta a integridade das suas mensagens.

Ficamos profundamente gratos que esta colaboração com o FOLIO nos tenha permitido participar na criação de espaços de reflexão, onde o encontro de perspetivas diversas remodela a forma como entendemos a literatura, a comunidade e o nosso futuro comum.

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Reconfigurar mundos: vozes indígenas em destaque no FOLIO

No Festival Literário Internacional de Óbidos, em Outubro de 2024, imaginaram-se futuros possíveis através de múltiplos cruzamentos entre conhecimento ancestral e literatura contemporânea.

Foi um privilégio para a Azimuth World Foundation participar na «Roda de Configurações de Mundos». Um encontro pioneiro, antes de mais pelas vozes que escolheu destacar, e que, infelizmente, ainda tão raramente ocupam este lugar no centro dos encontros literários mais convencionais. Integrado no módulo Casa Floresta do FOLIO+, este diálogo tomou como ponto de partida, segundo a curadora Candela Varas, a «literatura com clara conexão com o ancestral, com a comunidade e com a natureza, narrada sobre o eixo da interdependência de todas as formas viventes orgânicas e inorgânicas».

Sentimo-nos profundamente honrados por partilhar este espaço com um grupo muito especial de líderes indígenas, escritores e pensadores: Verenilde Pereira, Kaká Werá, Cebaldo Inawinapi, Ellen Lima Wassu, Elvis Guerra, Carola Saavedra, Patricia Vieira, Juan Carlos Galeano, Marta Lança e Candela Varas.

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Crédito: FOLIO

Cosmogonias indígenas para Reimaginar Mundos

A Roda de Configurações de Mundos foi mais do que uma discussão literária — foi um exercício coletivo que apelou ao reimaginar de mundos, questionando visões dominantes, e procurando outras vias através das possibilidades abertas pelas cosmogonias e práticas indígenas. Uma abordagem muito alinhada com o trabalho que temos desenvolvido na Azimuth, no sentido de amplificar as vozes indígenas e de apoiar narrativas que sejam verdadeiramente autodeterminadas.

Ao propôr uma reflexão e criação coletivas, este momento inspirou-se em práticas através das quais as comunidades indígenas mantêm vivos os seus sistemas de conhecimento desde tempos imemoriais.

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Crédito: FOLIO

Connecting the Dots: Quatro conversas marcantes

A nossa equipa aproveitou a visita ao FOLIO para conversar com quatro participantes da Roda, que sem dúvida representam a profundidade e a diversidade de perspetivas presentes no festival. Conversas nas quais exploramos como o conhecimento tradicional e outras formas de ver e viver o mundo podem ser a chave para enfrentar as crises da contemporaneidade.

Clique no nome do convidado para encontrar a versão em podcast e a versão escrita de cada entrevista.

Ellen Lima Wassu guia-nos numa reflexão profunda sobre descolonização, reparações e como encontrar alegria na luta. Artivista, autora, poeta, Ellen fala-nos sobre as muitas formas que assume a resistência indígena, incluindo enquanto alegria ela mesma, esse gesto radical.

Kaká Werá é um pioneiro da literatura indígena no Brasil, determinado em preservar e partilhar o conhecimento tradicional há mais de três décadas. Ao longo dos 16 livros que publicou desde então, tem vindo a demonstrar como a sabedoria ancestral nos pode orientar na resolução dos mais prementes desafios que enfrentamos hoje. A sua obra mais recente, «Tekoá», explora a filosofia Tupi Guarani do Bem-Viver — um conceito cada vez mais relevante para uma humanidade que questiona a sustentabilidade das suas escolhas.

Verenilde Pereira, jornalista, investigadora e autora afro-indígena, é uma figura incontornável das letras com origem na Amazónia brasileira. Nesta conversa fala-nos do ato político contra os sistemas de dominação que é o motor da sua escrita. O seu romance “Um Rio Sem Fim”, recentemente redescoberto e aclamado, retrata as comunidades amazónicas em toda a sua complexidade, estilhaçando os limites das narrativas dominantes, ao mesmo tempo que põe em primeiro plano a riqueza das cosmogonias tradicionais.

Juan Carlos Galeano é poeta e investigador. Nasceu na Amazônia colombiana, e tem dedicado a sua vida a documentar e a estudar cosmogonias indígenas e conhecimento tradicional sobre o meio ambiente, temas que atravessam a nossa conversa. O seu livro «Amazonía», recentemente traduzido para o português, mostra como as perspetivas amazónicas podem transformar a nossa relação com o mundo natural. Um aspecto que não deixou de vincar durante a entrevista. Afinal, estas formas de conhecimento surgem como cada vez mais indispensáveis ante a crise ecológica que atravessamos.

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Crédito: FOLIO

Apoiar a soberania narrativa das comunidades e autores indígenas

A Azimuth World Foundation apoiou a realização da Casa Floresta no FOLIO, uma parceria que reflecte o nosso compromisso em promover espaços onde as vozes indígenas possam partilhar os seus conhecimentos nos seus próprios termos. As comunidades indígenas não são apenas portadoras de histórias — albergam e nutrem formas de ver o mundo que nos desafiam, e que nos mostram caminhos para que haja um futuro para a espécie humana. Ao criar esta plataforma, o Festival FOLIO mostrou como vozes indígenas podem chegar até públicos mais amplos, mantendo intacta a integridade das suas mensagens.

Ficamos profundamente gratos que esta colaboração com o FOLIO nos tenha permitido participar na criação de espaços de reflexão, onde o encontro de perspetivas diversas remodela a forma como entendemos a literatura, a comunidade e o nosso futuro comum.

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