Reequilibrar a Dieta das Populações Nativas Recorrendo a Técnicas de Subsistência em Cordova, no Alasca

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Bolsa de 25 000 USD
para restaurar a relação histórica e cultural
da aldeia nativa de Eyak com o meio ambiente
através de entregas mensais
de alimentos nativos tradicionais
obtidos de forma sustentável

Nesta página, partilhamos informação sobre a comunidade servida por este projeto e os desafios específicos que enfrenta. Apresentamos o trabalho da Native Conservancy, a organização indígena que nos orgulhamos de ter apoiado, e descrevemos pormenorizadamente o projeto que desenvolveram com este apoio. Convidamo-lo a saber mais, a considerar tornar-se um aliado e a descobrir formas de apoiar diretamente a Native Conservancy.

A COMUNIDADE

Há 3.500 anos que o povo Eyak Athabaskan vive ao longo do delta do rio Copper e na zona leste da Enseada do Príncipe Guilherme. Trata-se de um povo que migrou do interior do Alasca, atravessando os glaciares, até alcançar a zona costeira do Golfo do Alasca. Fixaram-se nesta região, onde o recuo dos glaciares formou rios e uma estreita faixa verde, perto de Yakutat (uma palavra Eyak, que significa “lagoa atrás do mar, onde repousam as canoas”).

Os Eyak – povo do salmão selvagem do rio Copper – são os guardiões ancestrais e tradicionais da região do delta do rio Copper. Tanto a identidade, como o nome deste povo, provêm do local onde estabeleceram as suas aldeias de subsistência. “Eyak” significa “a garganta do lago, onde o lago passa a ser rio”.

Crédito: The Native Conservancy

OS DESAFIOS

Durante milhares de anos, as famílias da aldeia nativa de Eyak, na Enseada do Príncipe Guilherme, basearam o seu modo de vida numa profunda ligação à natureza, e em particular ao oceano. As dietas dos Eyak acompanhavam as estações do ano, guiando a pesca, a caça e a colheita de frutos e plantas. Tradicionalmente, os Eyak não se viam como separados do seu meio ambiente e, como tal, desempenhavam o papel de guardiões e gestores ancestrais destas terras.

Este período foi sucedido pela colonização e pela assimilação forçada, culminando no derrame de petróleo da Exxon Valdez, em 1989. Estes acontecimentos afastaram as famílias Eyak dos seus recursos alimentares locais, levando-as a depender de alimentos processados importados do continente. Consequentemente, a sua dieta, outrora rica em nutrientes, está hoje empobrecida. A dieta representa um elemento do empobrecimento geral da própria comunidade. No início do século XX, foi inaugurado em Cordova um terminal da indústria do carvão e do cobre, sobre a antiga aldeia de Eyak. Mais tarde, foi neste mesmo local que se estabeleceram empresas e fábricas de conservas, que sazonalmente contratam membros do povo Eyak. Este é, pois, o contexto actual em que vive a comunidade – um deserto alimentar, onde os custos são altíssimos. Aos preços incomportáveis dos alimentos não tradicionais, soma-se a inacessibilidade aos alimentos tradicionais.

De acordo com as estatísticas do Alaska Native Tribal Health Consortium, entre o início dos anos 90 e o final dos anos 2000, a taxa de obesidade aumentou 63%. A probabilidade de desenvolver diabetes nas populações nativas é o dobro ou o triplo da que se verifica na população caucasiana. É, por isso, fundamental promover o acesso a alimentos tradicionais, muito mais saudáveis e sustentáveis do que os alimentos processados trazidos do continente. Só assim se podem alcançar melhorias ao nível da saúde e do bem-estar do povo Eyak, bem como do meio ambiente em que vivem.


Crédito: The Native Conservancy

A ORGANIZAÇÃO PARCEIRA

 

A Native Conservancy

A Native Conservancy é uma organização sem fins lucrativos, com o estatuto 501(c)(3), criada em 2003 para defender a auto-determinação das populações nativas do Alasca que vivem na Enseada do Príncipe Guilherme e ao longo dos territórios da Nação do Salmão. Enquanto organização indígena, a NC procura revitalizar o conhecimento tradicional das comunidades costeiras do Alasca, capacitando as populações nativas para uma proteção e preservação permanentes dos habitats ameaçados que se encontram nas suas terras ancestrais. A NC procura também manter e registar títulos de propriedade em terras nativas, ao abrigo de fundos de conservação, tendo em vista reforçar os direitos das populações nativas à sua soberania, às suas práticas de subsistência e à sua espiritualidade.


Crédito: The Native Conservancy

O PROJETO

 

Reequilibrar a dieta das populações nativas recorrendo a técnicas de subsistência em Cordova, no Alasca

Este projeto tem como objetivo atenuar os impactos profundamente negativos que a indústria extractiva tem tido na comunidade da aldeia nativa de Eyak. Procura fazê-lo através da revitalização de um modo de vida ligado ao oceano, assente na gestão, preparação e distribuição de alimentos tradicionais aos anciãos de Eyak e às suas famílias.

“O grande objetivo deste projeto é impedir que as famílias nativas que vivem em Cordova há milhares de anos tenham de comer papas de milho enlatado, possibilitando o acesso às suas dietas ancestrais.”

–  Jim Smith, nativo de Eyak, Gestor do Programa de Restauração e Subsistência Anciã da Native Conservancy

Este projeto protege os modos de vida das populações nativas do Alasca, que estão alicerçados numa harmonia com a natureza. Também procura reduzir a prevalência de alimentos altamente processados que chegam do continente, promovendo a alimentação como estratégia de fortalecimento familiar, comunitário e cultural.

Quando a Native Conservancy fez uma das suas primeiras entregas a anciãos Eyak, em Cordova – mais de 200 kg de alimentos tradicionais congelados – os beneficiários seguiram a tradição das populações nativas da região, partilhando estes recursos com as suas famílias e com os agregados familiares vizinhos. Ao seguirem este procedimento tradicional, triplicaram o impacto do sistema de segurança alimentar estabelecido pela Native Conservancy. Esta bolsa da Azimuth permitiu à Native Conservancy desenvolver as seguintes actividades:

1. Expandiu o Programa de Subsistência, para que os anciãos indígenas e as suas famílias tivessem acesso a alimentos saudáveis, de origem local.
Para as entregas mensais do Programa, foi seguido um calendário de alimentos sazonais, que incluiu marisco, algas, peixe, carne, bagas e plantas medicinais. A Native Conservancy também realizou inquéritos junto das famílias com membros idosos, bem como outras acções junto da comunidade. No Facebook, foi criada uma página com ementas, que permitiu dar ao Programa a flexibilidade necessária para acomodar preferências e sugestões dos beneficiários.

2. Promoveu o fortalecimento dos laços entre os anciãos e a os restantes membros das comunidades nativas.
Todos os meses, a equipa do projeto reuniu pessoalmente com pelo menos 50 anciãos. Isto permitiu um aprofundar das relações, e a realização de inquéritos sobre as refeições. Desta forma, os anciãos puderam expressar as suas necessidades e preferências ao nível dos alimentos tradicionais oferecidos pelo Programa. Às famílias foi dada a possibilidade de contribuirem com receitas próprias, e puderam também indicar fornecedores locais de iguarias tradicionais. Além disso, o Programa continuou a envolver os jovens da comunidade na recolha e processamento de alimentos segundo métodos tradicionais.

Ao longo dos últimos anos, houve um crescimento muito substancial do Programa de Subsistência da Native Conservancy, até perante situações inesperadas, como a pandemia de COVID. O Programa abrange a colheita e a preparação de alimentos, bem como o contacto com a comunidade e a gestão de todos os recursos. Outro aspecto central do Programa é o seu alcance, uma vez que inclui entregas em hospitais e lares de idosos, instituições que de outra forma não teriam acesso a estes alimentos.

O projeto procurou ainda recrutar especialistas locais em cozinha nativa – desde de produtores de geleias e compotas tradicionais, feitas a partir de bagas locais, até aos chefs que fazem o melhor pão frito da cidade. Estas especialidades foram integradas uma vez por mês nas entregas regulares, que incluem sempre peixe, carne, bagas e plantas medicinais.

Tivemos o enorme privilégio de conversar com Dune Lankard, fundador e presidente da Native Conservancy. Nesta entrevista, dá-nos a conhecer modo de vida oceânico que o povo Eyak pratica no delta do rio Copper e na Enseada do Príncipe Guilherme, realçando a importância de reintegrar os alimentos tradicionais de subsistência nas dietas das comunidades:

 

Uma celebração de tudo o que foi conquistado por este projeto

Ao reflectirmos sobre o projeto, e sobre tudo o que a Native Conservancy conseguiu implementar ao longo deste ano, não podemos deixar de sentir uma profunda gratidão por esta parceria. Não restam dúvidas: reequilibrar as dietas das comunidades nativas, com recurso a alimentos tradicionais de subsistência, é um passo crucial para proteger e empoderar os membros mais idosos das comunidades. É também um processo indispensável para o fortalecimento de laços, para promover a resiliência das comunidades.

Kelp and Salmon // Crédito: The Native Conservancy

A implementação deste projeto permitiu à Native Conservancy expandir a sua missão. Mais anciãos, e mais famílias, passaram a ter um acesso regular a alimentos saudáveis de origem local.

Parte do sucesso da implementação deveu-se à inclusão de Marina Madison na equipa. A sua dedicação e experiência foram fundamentais para agilizar o processo de distribuição: ao longo do ano de 2023, foram cuidadosamente rastreadas e entregues 530 porções de peixe fresco, 143 caranguejos e 487 refeições caseiras.

Foi também Marina quem convidou vários chefs a participar no Programa, através da criação de pratos inspirados em receitas tradicionais, tais como torta de peixe ou o gumbo de salmão. Receitas que celebram a herança Eyak, que nutrem fisicamente e espiritualmente.

Mas o Programa também distribuiu refeições baseadas em receitas modernas, confeccionadas com peixe e carne de subsistência. Segundo os inquéritos, não há como duvidar do sucesso das gyozas de salmão! Outras opções incluíram ramen de salmão com miso, hambúrgueres de alabote, gumbo de salmão, sopa de marisco, ou massa com pesto e almôndegas de salmão.

Para além da distribuição local de alimentos, a partilha das atividades do projeto nas redes sociais permitiu à Native Conservancy aumentar a sua rede de contactos com indivíduos e comunidades interessados na alimentação de subsistência.

O Programa esteve em destaque no artigo “Kelp Update”, escrito por Jennifer Nu para a revista Edible Alaska.


...

Kelp Update | Edible Alaska

Editors’ Note: The National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) defines mariculture as the culturing of shellfish and aquatic plant organisms such as seaweed in areas of the ocean close to shore. Since the 2019 Edible Alaska story on kelp farming, mariculture has experienced a surge in attention with funding, research, new farms, and associated services in many Alaskan

Os princípios de preservação cultural e soberania alimentar subjacentes ao projeto foram descritos no artigo de forma muito eloquente por Jim Smith, diretor do programa Reclaiming Land & Water Ties da Native Conservancy, que salientou também os problemas derivados de uma relação cada vez mais distante entre a terra e a água:

“As pessoas deste lugar, os animais e as plantas deste lugar – o nosso ADN vive lado a lado, em conjunto, há milhares de anos. Se há uma separação, se esse laço é cortado, então em menos de uma geração pode perder-se o conhecimento sobre como se vive aqui.”

–  Jim Smith

De acordo com Jim Smith, o programa que dirige procura reconstruir esses laços através da distribuição de alimentos de subsistência a anciãos nativos.

“É algo que nos liga uns aos outros, e que nos liga ao passado. É um processo que nos traz de volta a certas histórias. Liga-nos a este lugar, onde vivemos há 10.000 anos. Liga-nos aos alimentos nutritivos que é suposto comermos.”

– Jim Smith

Jim Smith // Crédito: The Native Conservancy

Para além das entregas locais, a Native Conservancy conseguiu ainda prestar apoio a comunidades vizinhas no Alasca, que foram afetadas pelo tufão Merbok. A cidade de Nom, por exemplo, registou rajadas de vento com velocidades superiores a 110 km/h (White, 2023). Estas comunidades estão ainda hoje a trabalhar para recuperar da devastação que sofreram.

A comunidade Iñupiaq de Nome não conseguiu realizar a sua pesca anual de salmão, e perante esta necessidade urgente de alimentos de subsistência, a Native Conservancy doou 17 filetes à comunidade, que foram entregues aos anciãos locais.

A Native Conservancy doou ainda oito filetes para as quintas Calypso, em Fairbanks, para cursos de formação em subsistência indígena, bem como 75 porções de salmão para uma reunião de povos nativos do rio Yukon, que nos últimos anos deixaram de conseguir realizar a sua pesca de subsistência tradicional.

Mas talvez o aspeto mais gratificante de toda esta jornada tenha sido a sincera gratidão expressa pelos anciãos nativos. Notas de agradecimento escritas à mão, ou respostas a inquéritos onde ecoa o sentimento de que os alimentos de subsistência formam parte “da nossa linhagem”, estas palavras demonstram a importância deste trabalho.

“Nós crescemos com os alimentos de subsistência. Tal como os nossos antepassados. Fazem parte da nossa linhagem.”

– Ancião Eyak

Pode apoiar diretamente o trabalho da Native Conservancy

A Azimuth World Foundation orgulha-se de ter apoiado especificamente o Programa de Subsistência. Mas o trabalho da Native Conservancy engloba muitos outros projectos comunitários, que têm como objetivo fortalecer a resiliência das comunidades indígenas. Estes incluem a criação de empresas sociais, a salvaguarda das últimas bacias hidrográficas de salmão selvagem e a revitalização do habitat oceânico para a preservação de espécies como os peixes forrageiros, o salmão selvagem, o arenque e pequenos invertebrados.

 

SUPPORT

A Azimuth World Foundation não angaria fundos para si própria ou para os seus parceiros, nem recebe donativos.
O link acima encaminha diretamente para a plataforma de doações da Native Conservancy.

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Reequilibrar a Dieta das Populações Nativas Recorrendo a Técnicas de Subsistência em Cordova, no Alasca

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Bolsa de 25 000 USD
para restaurar a relação histórica e cultural
da aldeia nativa de Eyak com o meio ambiente
através de entregas mensais
de alimentos nativos tradicionais
obtidos de forma sustentável

Nesta página, partilhamos informação sobre a comunidade servida por este projeto e os desafios específicos que enfrenta. Apresentamos o trabalho da Native Conservancy, a organização indígena que nos orgulhamos de ter apoiado, e descrevemos pormenorizadamente o projeto que desenvolveram com este apoio. Convidamo-lo a saber mais, a considerar tornar-se um aliado e a descobrir formas de apoiar diretamente a Native Conservancy.

A COMUNIDADE

Há 3.500 anos que o povo Eyak Athabaskan vive ao longo do delta do rio Copper e na zona leste da Enseada do Príncipe Guilherme. Trata-se de um povo que migrou do interior do Alasca, atravessando os glaciares, até alcançar a zona costeira do Golfo do Alasca. Fixaram-se nesta região, onde o recuo dos glaciares formou rios e uma estreita faixa verde, perto de Yakutat (uma palavra Eyak, que significa “lagoa atrás do mar, onde repousam as canoas”).

Os Eyak – povo do salmão selvagem do rio Copper – são os guardiões ancestrais e tradicionais da região do delta do rio Copper. Tanto a identidade, como o nome deste povo, provêm do local onde estabeleceram as suas aldeias de subsistência. “Eyak” significa “a garganta do lago, onde o lago passa a ser rio”.

Crédito: The Native Conservancy

OS DESAFIOS

Durante milhares de anos, as famílias da aldeia nativa de Eyak, na Enseada do Príncipe Guilherme, basearam o seu modo de vida numa profunda ligação à natureza, e em particular ao oceano. As dietas dos Eyak acompanhavam as estações do ano, guiando a pesca, a caça e a colheita de frutos e plantas. Tradicionalmente, os Eyak não se viam como separados do seu meio ambiente e, como tal, desempenhavam o papel de guardiões e gestores ancestrais destas terras.

Este período foi sucedido pela colonização e pela assimilação forçada, culminando no derrame de petróleo da Exxon Valdez, em 1989. Estes acontecimentos afastaram as famílias Eyak dos seus recursos alimentares locais, levando-as a depender de alimentos processados importados do continente. Consequentemente, a sua dieta, outrora rica em nutrientes, está hoje empobrecida. A dieta representa um elemento do empobrecimento geral da própria comunidade. No início do século XX, foi inaugurado em Cordova um terminal da indústria do carvão e do cobre, sobre a antiga aldeia de Eyak. Mais tarde, foi neste mesmo local que se estabeleceram empresas e fábricas de conservas, que sazonalmente contratam membros do povo Eyak. Este é, pois, o contexto actual em que vive a comunidade – um deserto alimentar, onde os custos são altíssimos. Aos preços incomportáveis dos alimentos não tradicionais, soma-se a inacessibilidade aos alimentos tradicionais.

De acordo com as estatísticas do Alaska Native Tribal Health Consortium, entre o início dos anos 90 e o final dos anos 2000, a taxa de obesidade aumentou 63%. A probabilidade de desenvolver diabetes nas populações nativas é o dobro ou o triplo da que se verifica na população caucasiana. É, por isso, fundamental promover o acesso a alimentos tradicionais, muito mais saudáveis e sustentáveis do que os alimentos processados trazidos do continente. Só assim se podem alcançar melhorias ao nível da saúde e do bem-estar do povo Eyak, bem como do meio ambiente em que vivem.


Crédito: The Native Conservancy

A ORGANIZAÇÃO PARCEIRA

 

A Native Conservancy

A Native Conservancy é uma organização sem fins lucrativos, com o estatuto 501(c)(3), criada em 2003 para defender a auto-determinação das populações nativas do Alasca que vivem na Enseada do Príncipe Guilherme e ao longo dos territórios da Nação do Salmão. Enquanto organização indígena, a NC procura revitalizar o conhecimento tradicional das comunidades costeiras do Alasca, capacitando as populações nativas para uma proteção e preservação permanentes dos habitats ameaçados que se encontram nas suas terras ancestrais. A NC procura também manter e registar títulos de propriedade em terras nativas, ao abrigo de fundos de conservação, tendo em vista reforçar os direitos das populações nativas à sua soberania, às suas práticas de subsistência e à sua espiritualidade.


Crédito: The Native Conservancy

O PROJETO

 

Reequilibrar a dieta das populações nativas recorrendo a técnicas de subsistência em Cordova, no Alasca

Este projeto tem como objetivo atenuar os impactos profundamente negativos que a indústria extractiva tem tido na comunidade da aldeia nativa de Eyak. Procura fazê-lo através da revitalização de um modo de vida ligado ao oceano, assente na gestão, preparação e distribuição de alimentos tradicionais aos anciãos de Eyak e às suas famílias.

“O grande objetivo deste projeto é impedir que as famílias nativas que vivem em Cordova há milhares de anos tenham de comer papas de milho enlatado, possibilitando o acesso às suas dietas ancestrais.”

–  Jim Smith, nativo de Eyak, Gestor do Programa de Restauração e Subsistência Anciã da Native Conservancy

Este projeto protege os modos de vida das populações nativas do Alasca, que estão alicerçados numa harmonia com a natureza. Também procura reduzir a prevalência de alimentos altamente processados que chegam do continente, promovendo a alimentação como estratégia de fortalecimento familiar, comunitário e cultural.

Quando a Native Conservancy fez uma das suas primeiras entregas a anciãos Eyak, em Cordova – mais de 200 kg de alimentos tradicionais congelados – os beneficiários seguiram a tradição das populações nativas da região, partilhando estes recursos com as suas famílias e com os agregados familiares vizinhos. Ao seguirem este procedimento tradicional, triplicaram o impacto do sistema de segurança alimentar estabelecido pela Native Conservancy. Esta bolsa da Azimuth permitiu à Native Conservancy desenvolver as seguintes actividades:

1. Expandiu o Programa de Subsistência, para que os anciãos indígenas e as suas famílias tivessem acesso a alimentos saudáveis, de origem local.
Para as entregas mensais do Programa, foi seguido um calendário de alimentos sazonais, que incluiu marisco, algas, peixe, carne, bagas e plantas medicinais. A Native Conservancy também realizou inquéritos junto das famílias com membros idosos, bem como outras acções junto da comunidade. No Facebook, foi criada uma página com ementas, que permitiu dar ao Programa a flexibilidade necessária para acomodar preferências e sugestões dos beneficiários.

2. Promoveu o fortalecimento dos laços entre os anciãos e a os restantes membros das comunidades nativas.
Todos os meses, a equipa do projeto reuniu pessoalmente com pelo menos 50 anciãos. Isto permitiu um aprofundar das relações, e a realização de inquéritos sobre as refeições. Desta forma, os anciãos puderam expressar as suas necessidades e preferências ao nível dos alimentos tradicionais oferecidos pelo Programa. Às famílias foi dada a possibilidade de contribuirem com receitas próprias, e puderam também indicar fornecedores locais de iguarias tradicionais. Além disso, o Programa continuou a envolver os jovens da comunidade na recolha e processamento de alimentos segundo métodos tradicionais.

Ao longo dos últimos anos, houve um crescimento muito substancial do Programa de Subsistência da Native Conservancy, até perante situações inesperadas, como a pandemia de COVID. O Programa abrange a colheita e a preparação de alimentos, bem como o contacto com a comunidade e a gestão de todos os recursos. Outro aspecto central do Programa é o seu alcance, uma vez que inclui entregas em hospitais e lares de idosos, instituições que de outra forma não teriam acesso a estes alimentos.

O projeto procurou ainda recrutar especialistas locais em cozinha nativa – desde de produtores de geleias e compotas tradicionais, feitas a partir de bagas locais, até aos chefs que fazem o melhor pão frito da cidade. Estas especialidades foram integradas uma vez por mês nas entregas regulares, que incluem sempre peixe, carne, bagas e plantas medicinais.

Tivemos o enorme privilégio de conversar com Dune Lankard, fundador e presidente da Native Conservancy. Nesta entrevista, dá-nos a conhecer modo de vida oceânico que o povo Eyak pratica no delta do rio Copper e na Enseada do Príncipe Guilherme, realçando a importância de reintegrar os alimentos tradicionais de subsistência nas dietas das comunidades:

 

Uma celebração de tudo o que foi conquistado por este projeto

Ao reflectirmos sobre o projeto, e sobre tudo o que a Native Conservancy conseguiu implementar ao longo deste ano, não podemos deixar de sentir uma profunda gratidão por esta parceria. Não restam dúvidas: reequilibrar as dietas das comunidades nativas, com recurso a alimentos tradicionais de subsistência, é um passo crucial para proteger e empoderar os membros mais idosos das comunidades. É também um processo indispensável para o fortalecimento de laços, para promover a resiliência das comunidades.

Kelp and Salmon // Crédito: The Native Conservancy

A implementação deste projeto permitiu à Native Conservancy expandir a sua missão. Mais anciãos, e mais famílias, passaram a ter um acesso regular a alimentos saudáveis de origem local.

Parte do sucesso da implementação deveu-se à inclusão de Marina Madison na equipa. A sua dedicação e experiência foram fundamentais para agilizar o processo de distribuição: ao longo do ano de 2023, foram cuidadosamente rastreadas e entregues 530 porções de peixe fresco, 143 caranguejos e 487 refeições caseiras.

Foi também Marina quem convidou vários chefs a participar no Programa, através da criação de pratos inspirados em receitas tradicionais, tais como torta de peixe ou o gumbo de salmão. Receitas que celebram a herança Eyak, que nutrem fisicamente e espiritualmente.

Mas o Programa também distribuiu refeições baseadas em receitas modernas, confeccionadas com peixe e carne de subsistência. Segundo os inquéritos, não há como duvidar do sucesso das gyozas de salmão! Outras opções incluíram ramen de salmão com miso, hambúrgueres de alabote, gumbo de salmão, sopa de marisco, ou massa com pesto e almôndegas de salmão.

Para além da distribuição local de alimentos, a partilha das atividades do projeto nas redes sociais permitiu à Native Conservancy aumentar a sua rede de contactos com indivíduos e comunidades interessados na alimentação de subsistência.

O Programa esteve em destaque no artigo “Kelp Update”, escrito por Jennifer Nu para a revista Edible Alaska.


...

Kelp Update | Edible Alaska

Editors’ Note: The National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) defines mariculture as the culturing of shellfish and aquatic plant organisms such as seaweed in areas of the ocean close to shore. Since the 2019 Edible Alaska story on kelp farming, mariculture has experienced a surge in attention with funding, research, new farms, and associated services in many Alaskan

Os princípios de preservação cultural e soberania alimentar subjacentes ao projeto foram descritos no artigo de forma muito eloquente por Jim Smith, diretor do programa Reclaiming Land & Water Ties da Native Conservancy, que salientou também os problemas derivados de uma relação cada vez mais distante entre a terra e a água:

“As pessoas deste lugar, os animais e as plantas deste lugar – o nosso ADN vive lado a lado, em conjunto, há milhares de anos. Se há uma separação, se esse laço é cortado, então em menos de uma geração pode perder-se o conhecimento sobre como se vive aqui.”

–  Jim Smith

De acordo com Jim Smith, o programa que dirige procura reconstruir esses laços através da distribuição de alimentos de subsistência a anciãos nativos.

“É algo que nos liga uns aos outros, e que nos liga ao passado. É um processo que nos traz de volta a certas histórias. Liga-nos a este lugar, onde vivemos há 10.000 anos. Liga-nos aos alimentos nutritivos que é suposto comermos.”

– Jim Smith

Jim Smith // Crédito: The Native Conservancy

Para além das entregas locais, a Native Conservancy conseguiu ainda prestar apoio a comunidades vizinhas no Alasca, que foram afetadas pelo tufão Merbok. A cidade de Nom, por exemplo, registou rajadas de vento com velocidades superiores a 110 km/h (White, 2023). Estas comunidades estão ainda hoje a trabalhar para recuperar da devastação que sofreram.

A comunidade Iñupiaq de Nome não conseguiu realizar a sua pesca anual de salmão, e perante esta necessidade urgente de alimentos de subsistência, a Native Conservancy doou 17 filetes à comunidade, que foram entregues aos anciãos locais.

A Native Conservancy doou ainda oito filetes para as quintas Calypso, em Fairbanks, para cursos de formação em subsistência indígena, bem como 75 porções de salmão para uma reunião de povos nativos do rio Yukon, que nos últimos anos deixaram de conseguir realizar a sua pesca de subsistência tradicional.

Mas talvez o aspeto mais gratificante de toda esta jornada tenha sido a sincera gratidão expressa pelos anciãos nativos. Notas de agradecimento escritas à mão, ou respostas a inquéritos onde ecoa o sentimento de que os alimentos de subsistência formam parte “da nossa linhagem”, estas palavras demonstram a importância deste trabalho.

“Nós crescemos com os alimentos de subsistência. Tal como os nossos antepassados. Fazem parte da nossa linhagem.”

– Ancião Eyak

Pode apoiar diretamente o trabalho da Native Conservancy

A Azimuth World Foundation orgulha-se de ter apoiado especificamente o Programa de Subsistência. Mas o trabalho da Native Conservancy engloba muitos outros projectos comunitários, que têm como objetivo fortalecer a resiliência das comunidades indígenas. Estes incluem a criação de empresas sociais, a salvaguarda das últimas bacias hidrográficas de salmão selvagem e a revitalização do habitat oceânico para a preservação de espécies como os peixes forrageiros, o salmão selvagem, o arenque e pequenos invertebrados.

 

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A Azimuth World Foundation não angaria fundos para si própria ou para os seus parceiros, nem recebe donativos.
O link acima encaminha diretamente para a plataforma de doações da Native Conservancy.

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