“Raízes do Futuro”, em Lisboa

“Raízes do Futuro” reuniu líderes indígenas, académicos, cineastas, ativistas e especialistas em direitos humanos e meio ambiente. Juntos, explorámos o valor cultural e conhecimento das comunidades tradicionais e a constante violação dos seus direitos humanos num diálogo construtivo para um futuro verdadeiramente justo e sustentável.

Realizado em Janeiro de 2025, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, o «Raízes do Futuro» procurou provocar encontros entre conhecimentos indígenas e desafios contemporâneos. Ao longo de um dia que incluiu uma bênção tradicional de Christine Kandie, cinema, apresentações sobre conservação, justiça climática e preservação cultural, foram muitos os laços que se fortaleceram entre participantes de diferentes origens e continentes.
Salientamos um momento particularmente marcante: os pontos em comum que se estabeleceram entre a apresentação da Unidos em Defesa de Covas do Barroso sobre a resistência da sua comunidade à mineração de lítio em Portugal, e o relato de Christine Kandie sobre a expulsão forçada dos Endorois do seu território ancestral no Quénia. Mas todas as intervenções permitiram a oradores e participantes explorar o papel do conhecimento tradicional na construção de soluções capazes de enfrentar os mais urgentes desafios ambientais e sociais da contemporaneidade.
PROGRAMA
Programa detalhado disponível aqui.
ORADORES EM DESTAQUE
Nas semanas que antecederam o evento, explorámos o percurso dos oradores convidados:
– Christine Kandie (Endorois), Líder Indígena
– Kiliii Yuyan, Fotojornalista National Geographic
– Edson Krenak, Activista, Escritor e Académico Indígena
– Ellen Pirá Wassu, Artivista, Escritora e Académica Indígena
– Exibição de “Juunt Pastaza Entsari – Águas do Pastaza” e conversa com a realizadora, Inês T. Alves
– Aby Sène Harper, Professora de Conservação e Desenvolvimento na Clemson University
– Renée Nader Messora & João Salaviza, Cineastas
– Unidos em Defesa de Covas do Barroso, Associação Local
CHRISTINE KANDIE

Christine Kandie, da comunidade Endorois no Quénia, é uma voz determinada na defesa dos direitos Indígenas das mulheres e pessoas com deficiência. Como Diretora Executiva da EIWEN (Endorois Indigenous Women Empowerment Network), que fundou em 2016, Christine luta pelos direitos das mulheres, raparigas e pessoas com deficiência Indígenas junto de comunidades tradicionais em todo o Quénia.
A história de Christine está intrinsecamente ligada à luta da sua comunidade. Os Endorois enfrentaram deslocamentos forçados, primeiro devido à criação de uma reserva turística no Lago Bogoria e, mais recentemente, pelos impactos das alterações climáticas. Estas experiências impactaram a sua compreensão sobre a ligação entre direitos Indígenas, justiça ambiental e desenvolvimento sustentável.
Ouça ou veja a entrevista com Christine sobre a importância de reconhecer o valor das terras Indígenas para além do seu potencial económico, sublinhando a importância cultural e espiritual:
Como mulher Indígena e pessoa com deficiência, Christine traz uma compreensão profunda das múltiplas camadas de marginalização nas comunidades Indígenas. O seu trabalho com a EIWEN abrange desde a documentação de conhecimentos tradicionais até à sua integração na gestão de recursos, exemplificado pelo Protocolo Biocultural Endorois.
Christine tem partilhado a sua visão no Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas. A sua participação no “Raízes do Futuro” enriqueceu muito este diálogo, trazendo à tona questões cruciais sobre direitos Indígenas, igualdade de género e justiça ambiental.
A EIWEN está no Facebook e no Instagram.
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Endorois Indigenous Women Empowerment Network (EIWEN)
KILIII YUYAN

O fotojornalista Kiliii Yuyan conta histórias de vidas ligadas à terra e ao mar, histórias que ajudam a humanidade a compreender-se a si própria e a sua relação com a Terra. Influenciado pela sua ascendência Nanai/Hèzhé (indígena do Leste Asiático) e chinesa, Kiliii procura compreender a humanidade através de diferentes perspectivas culturais.
Em trabalhos de reportagem já sobreviveu à perseguição de um urso polar ou à força de ondas possantes rodeado de lontras marinhas. Também já encontrou amizade e refúgio nos confins do mundo. Durante dois anos, construiu e navegou em caiaques tradicionais, embrenhando-se a fundo nesta prática desenvolvida pelos seus antepassados.
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Em 2023, Kiliii recebeu uma das maiores honras da National Geographic, o Eliza Scidmore Award para Outstanding Storytelling, e integrou a lista da Photo District News dos 30 melhores fotógrafos em 2019.
Contribuiu para publicações como a TIME, a Vogue ou a WIRED, e foi distinguido com prémios como o Pictures of the Year International, o Leica Oscar-Barnack, e o American Society of Media Photographers. Kiliii integra ainda a digressão de 2024 da National Geographic Live como orador.
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Vive nas terras ancestrais dos Duwamish (Seattle), mas também costuma passar tempo no fundo dos oceanos ou a flutuar no gelo do Ártico. Kiliii integra o Comité Consultivo da Azimuth World Foundation desde 2023 para o qual contribui com o seu conhecimento e sensibilidade, ajudando a fundação na tomada de decisão sobre financiamento de projectos e direcção estratégica.
Ouça ou veja o episódio do nosso podcast Connecting the Dots com Kiliii Yuyan:
No Raízes do Futuro, Kiliii apresentou “Guardiões da Vida: A sabedoria da conservação Indígena”.
Pensar na beleza do mundo natural é evocar imagens de áreas protegidas pelos povos Indígenas: os corais do Pacífico, as florestas tropicais da Amazónia, e até a imensidão do gelo do Ártico. Pensamos estes ecossistemas como estando profundamente ameaçados pelas comunidades que lá vivem. No entanto, esta ideia não podia estar mais longe da realidade.
Os povos Indígenas são responsáveis pela gestão de quase 40% dos territórios biodiversos do mundo, personificando a nossa maior defesa contra as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. Este sucesso tem sido subestimado, mas a consciência sobre esta valiosa contribuição tem vindo a crescer.
Guardiões da Vida explora as soluções da gestão climática das comunidades Indígenas.
Na Amazónia, o povo Cofán luta há sete décadas contra a desflorestação causada pela extração de petróleo e pelo “desenvolvimento”. Na Mongólia, o renascimento do xamanismo conduziu ao restauro das pradarias em todo o país. No Palau, a resiliência dos recifes de coral é garantida por uma vasta área marinha protegida. Na Austrália, os povos Aborígenes cuidam das suas florestas tropicais com recurso a fogos controlados que previnem incêndios catastróficos.
Estas são as verdadeiras histórias do nosso tempo—as soluções mais extraordinárias contra o desastre ecológico a ser desenvolvidas em grande escala em todo o mundo. Os povos Indígenas não protegem apenas as suas terras. Os povos Indígenas oferecem-nos milhares de formas sustentáveis de viver e a confirmação de que os seres humanos podem continuar a cuidar da Terra.
Pode seguir o seu trabalho no website oficial, ou na página de Instagram.
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EDSON KRENAK

Edson Krenak é activista indígena, académico e escritor. Atualmente, é doutorando em Antropologia Jurídica na Universidade de Viena, na Áustria.
Edson também é formado em Linguística e Teoria Literária pela Universidade Federal de São Carlos, no Brasil. Desde 2013, colabora com o Instituto Uk’a de Arte e Cultura Brasileira, onde partilha a sua experiência como palestrante.
Em 2016, Edson tornou-se o 10º vencedor do prestigiado Prémio Nacional Tamoios para Escritores Indígenas pelo seu livro “O Sonho de Borum“. O seu conto, “Kren e Pokrane: Por Que o Povo Krenak Não Tinha Gêmeos”, foi incluído na antologia recomendada pela UNICEF em 2018, “Nós: Antologia de Contos Indígenas”.
Desde 2019, Edson Krenak actua como Coordenador de Defesa dos Direitos Indígenas na Cultural Survival, uma organização de direitos indígenas com sede nos EUA. Desde maio de 2024, é membro-at-large do Conselho da SALSA (Society for the Anthropology of Lowland South America) para o período 2024-2027.
Integra ainda o Comité Executivo da SIRGE Coalition onde onde desenvolve um importante trabalho de advocacia pelos direitos dos povos indígenas em fóruns decisórios globais, nomeadamente na questão da transição energética e justiça climática.
Veja a entrevista que gravámos com Edson para nossa série “Connecting the Dots”:
Em Lisboa, Edson partilhou duas importantes apresentações. Em “Traduções Xamânicas” explorou a influência das tradições xamânicas no ativismo e nos movimentos políticos indígenas no início do século XXI, especialmente nos contextos de transição justa, economia verde e alterações climáticas.
Em “Florestania”, reflectiu sobre como as literaturas indígenas repensam um mundo em crise através do conceito da cidadania da floresta.
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ELLEN PIRÁ WASSU

Ellen Pirá Wassu é artivista, escritora e doutoranda em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas pela Universidade do Minho em Portugal. Além de integrar diversas coletâneas e revistas literárias, publicou em 2021 “ixé ygara voltando pra ‘y’kûá” (Urutau) e “yby kûatiara um livro de terra”, 2023 (Urutau). A sua prática relaciona poesia, performance, activismo, crítica, estudos contra-coloniais, escritas ensaísticas, banho de rio e conversa com flores.
Veja a entrevista que gravámos com Ellen Wassu para a nossa série Connecting the Dots:
Em Janeiro, apresentou “Palavras Para Adiar o Fim do Mundo – a poesia indígena como ferramenta de resistência e reencantamento”, no Raízes do Futuro.
Uma apresentação através da qual explorou a poesia indígena como ferramenta poderosa para conhecermos as diferentes formas de resistência cultural, espiritual e política dos povos indígenas, e que nos convidou a conhecer estas poéticas e a reflectir sobre a sua relação intrínseca com a terra.
Pode seguir o trabalho de Ellen através da sua conta oficial de Instagram.

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Credit: Instagram @ellenlimawassu
INÊS T. ALVES

No Raízes do Futuro tivemos a oportunidade de ver o filme “Juunt Pastaza Entsari – Águas do Pastaza”, ao qual se seguiu uma conversa com a realizadora, Inês T. Alves, sobre o que é ser criança e experiências de crescimento entre o povo Achuar.
”Isolada na floresta tropical amazónica vive uma comunidade de crianças em profunda intimidade com a natureza à sua volta. Entre as águas do rio Pastaza e o topo das árvores, estas crianças vivem o seu quotidiano de forma quase autónoma e com um forte sentido de colaboração.”
Inês T. Alves está interessada nas formas colaborativas de vida e criação e no desenvolvimento da consciência através da atenção, da escuta e do sentir. Confia no potencial criativo e transformador do Encontro e no contacto com o saber intuitivo. A partir do seu trabalho, procura honrar a beleza quotidiana e a dádiva da coexistência.
Estudou Comunicação, Narrativas Culturais e Cinema Documental (bolseira da F. C. Gulbenkian). Realizou diversas curtas-metragens documentais e experimentais e a sua primeira longa-metragem documental “Águas do Pastaza” estreou na Berlinale 2022. Tem experiência no desenvolvimento de oficinas de cinema em diversos contextos, tendo colaborado com a associação Os Filhos de Lumière, Videoteca de Lisboa, Cineclube de Viseu, entre outros.
Pode saber mais sobre “Juunt Pastaza Entsari – Águas do Pastaza” no site oficial da Oblaum Filmes, produtora do filme.

ABY SÈNE HARPER

Professora de conservação e desenvolvimento na Universidade de Clemson. O seu trabalho situa-se a intersecção das políticas de conservação, desenvolvimento económico, direitos territoriais, soberania sobre recursos e modos de vida rurais nos EUA e no Senegal.
Nos EUA, a sua investigação interroga como a história, a economia política e a cultura medeiam as relações afro-americanas com territórios de conservação e paisagens culturais.
No Senegal, o seu trabalho centra-se nas estruturas coloniais de poder na conservação e em abordagens integradas de conservação, como projetos centrados nos modos de vida, ecoturismo e conservação comunitária.
Há mais de uma década que trabalha em estreita colaboração com agências governamentais nos EUA e em África para informar e desenhar planos de gestão integrada para grandes áreas de conservação de importância internacional para a biodiversidade e desenvolvimento socioeconómico.
Integra o Comité Consultivo da Azimuth World Foundation desde 2023, onde o seu conhecimento e experiência são fundamentais para apoiar as iniciativas da fundação com comunidades que foram deslocadas dos seus territórios ancestrais em nome da “conservação”.
Veja a entrevista que gravámos com a professora Aby Sène Harper para o nosso podcast, “Connecting the Dots”:
No Raízes do Futuro, participou na Mesa Redonda sobre Direitos Humanos, Alterações Climáticas e Justiça Ambiental, onde apresentou uma reflexão sobre o papel fundamental dos sistemas agrários e de propriedade indígenas na conservação global e as várias lutas territoriais que as comunidades enfrentam contra modelos neoliberais de conservação.
Na sua apresentação, explorou como sistemas tradicionais contribuem para a preservação da biodiversidade e como é que as comunidades resistem a abordagens de conservação que não consideram as suas realidades e direitos e se revelam profundamente ineficazes.
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Against Wildlife Republics
Western Nonprofits Are Trampling Over Africans’ Rights and Land
RENÉE MESSORA & JOÃO SALAVIZA

Renée Nader Messora e João Salaviza vivem e trabalham há mais de uma década com o povo indígena Krahô, no norte do Tocantins, com quem criaram o Mentuwajê – Guardiões da Cultura, colectivo audiovisual que tem como objetivo a utilização do cinema como ferramenta de fortalecimento cultural da comunidade.
Realizaram as longas-metragens “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (2018) e “A Flor do Buriti” (2023), ambos estreados e premiados no Festival de Cannes, ao que se seguiu uma ampla distribuição global.
A amizade e o trabalho com a comunidade são parte de uma aliança onde se dá um entrelaçamento das práticas artísticas e das lutas políticas, tendo em vista a protecção e defesa dos territórios tradicionais, a afirmação cultural e o Bem Viver do povo Krahô.
O cinema é a parte mais visível de uma relação de convivência e amizade entre o povo Krahô e os cineastas Renée Nader Messora e João Salaviza, que há mais de uma década vivem longos períodos na Terra Indígena. O que espera a comunidade desta aliança? De que forma pode o cinema, enquanto prática colectiva, ser um instrumento para a defesa e protecção dos territórios?
UDCB

A Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) é uma associação local sem fins lucrativos que defende o ambiente, o património e a qualidade de vida em Covas do Barroso. Trabalha para manter o modo de vida sustentável que caracteriza o Barroso e garantir que este continua a cumprir o seu papel no combate às alterações climáticas.
É constituída por pessoas comprometidas com os princípios do comunitarismo, do respeito pela Natureza e do direito a uma participação cívica activa e à auto-determinação coletiva.
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Contra transição energética injusta, movimentos criam Rede Global Antiextractivista
Em 2017, a Savannah Resources chegou a Covas do Barroso com uma licença que não correspondia ao que se conhecia. À medida que as prospeções foram avançando de forma extensiva e agressiva, cada vez mais próxima da aldeia, surgiram questões sobre que direitos e licenças realmente existiam. Em 2018, perante a ausência notória de autoridades e de informação clara e independente, foi formada a UDCB.
O que desde então se ficou a saber sobre o sistema de atribuição de licenças em Portugal, a falta de fiscalização e consideração pela protecção dos direitos das populações firmou a sua oposição. Ao sentido de justiça e de auto-preservação juntou-se a indignação pelas políticas ambientais e climáticas que procuram justificar a Mina do Barroso e muitas outras minas.
No Raízes do Futuro, os membros da UDCB Nelson Gomes, Aida Fernandes, Catarina Alves Scarrott e Mariana Riquito participaram na mesa redonda sobre Direitos Humanos, Alterações Climáticas e Justiça Ambiental.
“Raízes do Futuro”, em Lisboa

“Raízes do Futuro” reuniu líderes indígenas, académicos, cineastas, ativistas e especialistas em direitos humanos e meio ambiente. Juntos, explorámos o valor cultural e conhecimento das comunidades tradicionais e a constante violação dos seus direitos humanos num diálogo construtivo para um futuro verdadeiramente justo e sustentável.

Realizado em Janeiro de 2025, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, o «Raízes do Futuro» procurou provocar encontros entre conhecimentos indígenas e desafios contemporâneos. Ao longo de um dia que incluiu uma bênção tradicional de Christine Kandie, cinema, apresentações sobre conservação, justiça climática e preservação cultural, foram muitos os laços que se fortaleceram entre participantes de diferentes origens e continentes.
Salientamos um momento particularmente marcante: os pontos em comum que se estabeleceram entre a apresentação da Unidos em Defesa de Covas do Barroso sobre a resistência da sua comunidade à mineração de lítio em Portugal, e o relato de Christine Kandie sobre a expulsão forçada dos Endorois do seu território ancestral no Quénia. Mas todas as intervenções permitiram a oradores e participantes explorar o papel do conhecimento tradicional na construção de soluções capazes de enfrentar os mais urgentes desafios ambientais e sociais da contemporaneidade.
PROGRAMA
Programa detalhado disponível aqui.
ORADORES EM DESTAQUE
Nas semanas que antecederam o evento, explorámos o percurso dos oradores convidados:
– Christine Kandie (Endorois), Líder Indígena
– Kiliii Yuyan, Fotojornalista National Geographic
– Edson Krenak, Activista, Escritor e Académico Indígena
– Ellen Pirá Wassu, Artivista, Escritora e Académica Indígena
– Exibição de “Juunt Pastaza Entsari – Águas do Pastaza” e conversa com a realizadora, Inês T. Alves
– Aby Sène Harper, Professora de Conservação e Desenvolvimento na Clemson University
– Renée Nader Messora & João Salaviza, Cineastas
– Unidos em Defesa de Covas do Barroso, Associação Local
CHRISTINE KANDIE

Christine Kandie, da comunidade Endorois no Quénia, é uma voz determinada na defesa dos direitos Indígenas das mulheres e pessoas com deficiência. Como Diretora Executiva da EIWEN (Endorois Indigenous Women Empowerment Network), que fundou em 2016, Christine luta pelos direitos das mulheres, raparigas e pessoas com deficiência Indígenas junto de comunidades tradicionais em todo o Quénia.
A história de Christine está intrinsecamente ligada à luta da sua comunidade. Os Endorois enfrentaram deslocamentos forçados, primeiro devido à criação de uma reserva turística no Lago Bogoria e, mais recentemente, pelos impactos das alterações climáticas. Estas experiências impactaram a sua compreensão sobre a ligação entre direitos Indígenas, justiça ambiental e desenvolvimento sustentável.
Ouça ou veja a entrevista com Christine sobre a importância de reconhecer o valor das terras Indígenas para além do seu potencial económico, sublinhando a importância cultural e espiritual:
Como mulher Indígena e pessoa com deficiência, Christine traz uma compreensão profunda das múltiplas camadas de marginalização nas comunidades Indígenas. O seu trabalho com a EIWEN abrange desde a documentação de conhecimentos tradicionais até à sua integração na gestão de recursos, exemplificado pelo Protocolo Biocultural Endorois.
Christine tem partilhado a sua visão no Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas. A sua participação no “Raízes do Futuro” enriqueceu muito este diálogo, trazendo à tona questões cruciais sobre direitos Indígenas, igualdade de género e justiça ambiental.
A EIWEN está no Facebook e no Instagram.
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Endorois Indigenous Women Empowerment Network (EIWEN)
KILIII YUYAN

O fotojornalista Kiliii Yuyan conta histórias de vidas ligadas à terra e ao mar, histórias que ajudam a humanidade a compreender-se a si própria e a sua relação com a Terra. Influenciado pela sua ascendência Nanai/Hèzhé (indígena do Leste Asiático) e chinesa, Kiliii procura compreender a humanidade através de diferentes perspectivas culturais.
Em trabalhos de reportagem já sobreviveu à perseguição de um urso polar ou à força de ondas possantes rodeado de lontras marinhas. Também já encontrou amizade e refúgio nos confins do mundo. Durante dois anos, construiu e navegou em caiaques tradicionais, embrenhando-se a fundo nesta prática desenvolvida pelos seus antepassados.
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Em 2023, Kiliii recebeu uma das maiores honras da National Geographic, o Eliza Scidmore Award para Outstanding Storytelling, e integrou a lista da Photo District News dos 30 melhores fotógrafos em 2019.
Contribuiu para publicações como a TIME, a Vogue ou a WIRED, e foi distinguido com prémios como o Pictures of the Year International, o Leica Oscar-Barnack, e o American Society of Media Photographers. Kiliii integra ainda a digressão de 2024 da National Geographic Live como orador.
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Vive nas terras ancestrais dos Duwamish (Seattle), mas também costuma passar tempo no fundo dos oceanos ou a flutuar no gelo do Ártico. Kiliii integra o Comité Consultivo da Azimuth World Foundation desde 2023 para o qual contribui com o seu conhecimento e sensibilidade, ajudando a fundação na tomada de decisão sobre financiamento de projectos e direcção estratégica.
Ouça ou veja o episódio do nosso podcast Connecting the Dots com Kiliii Yuyan:
No Raízes do Futuro, Kiliii apresentou “Guardiões da Vida: A sabedoria da conservação Indígena”.
Pensar na beleza do mundo natural é evocar imagens de áreas protegidas pelos povos Indígenas: os corais do Pacífico, as florestas tropicais da Amazónia, e até a imensidão do gelo do Ártico. Pensamos estes ecossistemas como estando profundamente ameaçados pelas comunidades que lá vivem. No entanto, esta ideia não podia estar mais longe da realidade.
Os povos Indígenas são responsáveis pela gestão de quase 40% dos territórios biodiversos do mundo, personificando a nossa maior defesa contra as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. Este sucesso tem sido subestimado, mas a consciência sobre esta valiosa contribuição tem vindo a crescer.
Guardiões da Vida explora as soluções da gestão climática das comunidades Indígenas.
Na Amazónia, o povo Cofán luta há sete décadas contra a desflorestação causada pela extração de petróleo e pelo “desenvolvimento”. Na Mongólia, o renascimento do xamanismo conduziu ao restauro das pradarias em todo o país. No Palau, a resiliência dos recifes de coral é garantida por uma vasta área marinha protegida. Na Austrália, os povos Aborígenes cuidam das suas florestas tropicais com recurso a fogos controlados que previnem incêndios catastróficos.
Estas são as verdadeiras histórias do nosso tempo—as soluções mais extraordinárias contra o desastre ecológico a ser desenvolvidas em grande escala em todo o mundo. Os povos Indígenas não protegem apenas as suas terras. Os povos Indígenas oferecem-nos milhares de formas sustentáveis de viver e a confirmação de que os seres humanos podem continuar a cuidar da Terra.
Pode seguir o seu trabalho no website oficial, ou na página de Instagram.
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EDSON KRENAK

Edson Krenak é activista indígena, académico e escritor. Atualmente, é doutorando em Antropologia Jurídica na Universidade de Viena, na Áustria.
Edson também é formado em Linguística e Teoria Literária pela Universidade Federal de São Carlos, no Brasil. Desde 2013, colabora com o Instituto Uk’a de Arte e Cultura Brasileira, onde partilha a sua experiência como palestrante.
Em 2016, Edson tornou-se o 10º vencedor do prestigiado Prémio Nacional Tamoios para Escritores Indígenas pelo seu livro “O Sonho de Borum“. O seu conto, “Kren e Pokrane: Por Que o Povo Krenak Não Tinha Gêmeos”, foi incluído na antologia recomendada pela UNICEF em 2018, “Nós: Antologia de Contos Indígenas”.
Desde 2019, Edson Krenak actua como Coordenador de Defesa dos Direitos Indígenas na Cultural Survival, uma organização de direitos indígenas com sede nos EUA. Desde maio de 2024, é membro-at-large do Conselho da SALSA (Society for the Anthropology of Lowland South America) para o período 2024-2027.
Integra ainda o Comité Executivo da SIRGE Coalition onde onde desenvolve um importante trabalho de advocacia pelos direitos dos povos indígenas em fóruns decisórios globais, nomeadamente na questão da transição energética e justiça climática.
Veja a entrevista que gravámos com Edson para nossa série “Connecting the Dots”:
Em Lisboa, Edson partilhou duas importantes apresentações. Em “Traduções Xamânicas” explorou a influência das tradições xamânicas no ativismo e nos movimentos políticos indígenas no início do século XXI, especialmente nos contextos de transição justa, economia verde e alterações climáticas.
Em “Florestania”, reflectiu sobre como as literaturas indígenas repensam um mundo em crise através do conceito da cidadania da floresta.
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ELLEN PIRÁ WASSU

Ellen Pirá Wassu é artivista, escritora e doutoranda em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas pela Universidade do Minho em Portugal. Além de integrar diversas coletâneas e revistas literárias, publicou em 2021 “ixé ygara voltando pra ‘y’kûá” (Urutau) e “yby kûatiara um livro de terra”, 2023 (Urutau). A sua prática relaciona poesia, performance, activismo, crítica, estudos contra-coloniais, escritas ensaísticas, banho de rio e conversa com flores.
Veja a entrevista que gravámos com Ellen Wassu para a nossa série Connecting the Dots:
Em Janeiro, apresentou “Palavras Para Adiar o Fim do Mundo – a poesia indígena como ferramenta de resistência e reencantamento”, no Raízes do Futuro.
Uma apresentação através da qual explorou a poesia indígena como ferramenta poderosa para conhecermos as diferentes formas de resistência cultural, espiritual e política dos povos indígenas, e que nos convidou a conhecer estas poéticas e a reflectir sobre a sua relação intrínseca com a terra.
Pode seguir o trabalho de Ellen através da sua conta oficial de Instagram.

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Credit: Instagram @ellenlimawassu
INÊS T. ALVES

No Raízes do Futuro tivemos a oportunidade de ver o filme “Juunt Pastaza Entsari – Águas do Pastaza”, ao qual se seguiu uma conversa com a realizadora, Inês T. Alves, sobre o que é ser criança e experiências de crescimento entre o povo Achuar.
”Isolada na floresta tropical amazónica vive uma comunidade de crianças em profunda intimidade com a natureza à sua volta. Entre as águas do rio Pastaza e o topo das árvores, estas crianças vivem o seu quotidiano de forma quase autónoma e com um forte sentido de colaboração.”
Inês T. Alves está interessada nas formas colaborativas de vida e criação e no desenvolvimento da consciência através da atenção, da escuta e do sentir. Confia no potencial criativo e transformador do Encontro e no contacto com o saber intuitivo. A partir do seu trabalho, procura honrar a beleza quotidiana e a dádiva da coexistência.
Estudou Comunicação, Narrativas Culturais e Cinema Documental (bolseira da F. C. Gulbenkian). Realizou diversas curtas-metragens documentais e experimentais e a sua primeira longa-metragem documental “Águas do Pastaza” estreou na Berlinale 2022. Tem experiência no desenvolvimento de oficinas de cinema em diversos contextos, tendo colaborado com a associação Os Filhos de Lumière, Videoteca de Lisboa, Cineclube de Viseu, entre outros.
Pode saber mais sobre “Juunt Pastaza Entsari – Águas do Pastaza” no site oficial da Oblaum Filmes, produtora do filme.

ABY SÈNE HARPER

Professora de conservação e desenvolvimento na Universidade de Clemson. O seu trabalho situa-se a intersecção das políticas de conservação, desenvolvimento económico, direitos territoriais, soberania sobre recursos e modos de vida rurais nos EUA e no Senegal.
Nos EUA, a sua investigação interroga como a história, a economia política e a cultura medeiam as relações afro-americanas com territórios de conservação e paisagens culturais.
No Senegal, o seu trabalho centra-se nas estruturas coloniais de poder na conservação e em abordagens integradas de conservação, como projetos centrados nos modos de vida, ecoturismo e conservação comunitária.
Há mais de uma década que trabalha em estreita colaboração com agências governamentais nos EUA e em África para informar e desenhar planos de gestão integrada para grandes áreas de conservação de importância internacional para a biodiversidade e desenvolvimento socioeconómico.
Integra o Comité Consultivo da Azimuth World Foundation desde 2023, onde o seu conhecimento e experiência são fundamentais para apoiar as iniciativas da fundação com comunidades que foram deslocadas dos seus territórios ancestrais em nome da “conservação”.
Veja a entrevista que gravámos com a professora Aby Sène Harper para o nosso podcast, “Connecting the Dots”:
No Raízes do Futuro, participou na Mesa Redonda sobre Direitos Humanos, Alterações Climáticas e Justiça Ambiental, onde apresentou uma reflexão sobre o papel fundamental dos sistemas agrários e de propriedade indígenas na conservação global e as várias lutas territoriais que as comunidades enfrentam contra modelos neoliberais de conservação.
Na sua apresentação, explorou como sistemas tradicionais contribuem para a preservação da biodiversidade e como é que as comunidades resistem a abordagens de conservação que não consideram as suas realidades e direitos e se revelam profundamente ineficazes.
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Against Wildlife Republics
Western Nonprofits Are Trampling Over Africans’ Rights and Land
RENÉE MESSORA & JOÃO SALAVIZA

Renée Nader Messora e João Salaviza vivem e trabalham há mais de uma década com o povo indígena Krahô, no norte do Tocantins, com quem criaram o Mentuwajê – Guardiões da Cultura, colectivo audiovisual que tem como objetivo a utilização do cinema como ferramenta de fortalecimento cultural da comunidade.
Realizaram as longas-metragens “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (2018) e “A Flor do Buriti” (2023), ambos estreados e premiados no Festival de Cannes, ao que se seguiu uma ampla distribuição global.
A amizade e o trabalho com a comunidade são parte de uma aliança onde se dá um entrelaçamento das práticas artísticas e das lutas políticas, tendo em vista a protecção e defesa dos territórios tradicionais, a afirmação cultural e o Bem Viver do povo Krahô.
O cinema é a parte mais visível de uma relação de convivência e amizade entre o povo Krahô e os cineastas Renée Nader Messora e João Salaviza, que há mais de uma década vivem longos períodos na Terra Indígena. O que espera a comunidade desta aliança? De que forma pode o cinema, enquanto prática colectiva, ser um instrumento para a defesa e protecção dos territórios?
UDCB

A Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) é uma associação local sem fins lucrativos que defende o ambiente, o património e a qualidade de vida em Covas do Barroso. Trabalha para manter o modo de vida sustentável que caracteriza o Barroso e garantir que este continua a cumprir o seu papel no combate às alterações climáticas.
É constituída por pessoas comprometidas com os princípios do comunitarismo, do respeito pela Natureza e do direito a uma participação cívica activa e à auto-determinação coletiva.
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Contra transição energética injusta, movimentos criam Rede Global Antiextractivista
Em 2017, a Savannah Resources chegou a Covas do Barroso com uma licença que não correspondia ao que se conhecia. À medida que as prospeções foram avançando de forma extensiva e agressiva, cada vez mais próxima da aldeia, surgiram questões sobre que direitos e licenças realmente existiam. Em 2018, perante a ausência notória de autoridades e de informação clara e independente, foi formada a UDCB.
O que desde então se ficou a saber sobre o sistema de atribuição de licenças em Portugal, a falta de fiscalização e consideração pela protecção dos direitos das populações firmou a sua oposição. Ao sentido de justiça e de auto-preservação juntou-se a indignação pelas políticas ambientais e climáticas que procuram justificar a Mina do Barroso e muitas outras minas.
No Raízes do Futuro, os membros da UDCB Nelson Gomes, Aida Fernandes, Catarina Alves Scarrott e Mariana Riquito participaram na mesa redonda sobre Direitos Humanos, Alterações Climáticas e Justiça Ambiental.