“Revitalize the Roots” na edição de 2024 do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas

Cerimónia de abertura do UNPFII 2024 – Equipa da Azimuth World Foundation com Dominica Zhu (Global Wisdom Collective), Carson Kiburo (Jamii Asilia Centre) e Eric Kimalit (Endorois Welfare Council)
Em conjunto com os nossos parceiros Global Wisdom Collective e Jamii Asilia Centre, organizámos um evento no Fórum Permanente da ONU, em Nova Iorque, focado na preservação de sistemas de conhecimento indígena.
A nossa equipa regressou recentemente de Nova Iorque, onde participámos na edição deste ano do Fórum Permanente sobre Questões Indígenas, que teve lugar na sede da Nações Unidas.
À semelhança do ano passado, fomos convidados pelos nossos parceiros Global Wisdom Collective e Jamii Asilia Centre para co-organizar um evento paralelo, incluído na agenda oficial do Fórum, centrado nos resultados do projeto Revitalize the Roots, que a Azimuth tem vindo a apoiar desde 2022.
Neste vídeo, destacamos alguns momentos marcantes do evento, incluíndo as intervenções de Dominica Zhu (directora da Global Wisdom Collective), de Carson Kiburo (director da Jamii Asilia Centre), de Eric Kimalit (presidente do Endorois Welfare Council), e de Mariana Marques (presidente da Azimuth World Foundation):
Revitalize the Roots é um projeto pioneiro, focado na partilha intergeracional de conhecimento, cuja primeira edição – Revitalize the Roots: Bikaptorois – tem vindo a ser implementada em parceria com a comunidade Endorois, no Quénia, a comunidade de Carson Kiburo.
Depois de termos participado na cerimónia de entrega de diplomas do projecto, no Lago Bogoria, em fevereiro, foi um orgulho poder estar novamente ao lado da GWC e da JAC, desta vez em Nova Iorque, para partilhar com membros de outras organizações indígenas e aliadas as várias conquistas do Revitalize the Roots: Bikaptorois.
Um dos principais objetivos deste evento foi promover interações com outras organizações empenhadas na revitalização do conhecimento indígena, uma vez que Dominica e Carson planeiam expandir este projeto da Global Wisdom Collective. A ideia é replicar o modelo implementado no Quénia, adaptando-o a outras comunidades interessadas em preservar o seu conhecimento tradicional.
Hindou Omarou Ibrahim é eleita presidente do Fórum Permanente das Nações Unidas para as Questões Indígenas. É acompanhada na fotografia por Darío Mejía Montalvo, presidente do UNPFII de 2022 a 2024.
Ao entrar nas Nações Unidas para participar no Fórum Permanente, é impossível não pensar nas gerações de líderes e ativistas indígenas que lutaram para que este espaço fosse também seu.
Durante a cerimónia de abertura, vários intervenientes realçaram que os povos indígenas estão na vanguarda das soluções para as crises climática e da biodiversidade. Que apesar da representatividade indígena nos órgãos de tomada de decisão estar a crescer, é ainda muito insuficiente. Que o trabalho levado a cabo pela juventude indígena (tema do Fórum deste ano) é essencial no processo de construção de um mundo mais sustentável e justo.
Hindou Omarou Ibrahim foi eleita presidente do Fórum durante a cerimónia de abertura, na qual se puderam também escutar intervenções do vice-presidente da Bolívia, David Choquehuanca Céspedes, da ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, e do presidente da Assembleia Geral da ONU, Dennis Francis.
Deixamos um excerto do poderoso discurso de Hindou Ibrahim durante a cerimónia de abertura:
Cabe-nos apoiar, coletivamente, os jovens. Esta geração é a primeira a não ter vivido num mundo isento das graves consequências das alterações climáticas. Um pouco por toda a parte, o mundo enfrenta hoje a extinção em massa da biodiversidade, seja nas florestas, nos glaciares, nos arquipélagos ou nas savanas, nos desertos e nas montanhas, em todos os nossos ecossistemas. Os jovens vivem hoje num mundo cada vez mais violento e exortam-nos a trabalhar para a paz e para a reconciliação. Trata-se de um mundo onde a discriminação está novamente a aumentar, como estão também as desigualdades. Um mundo em que os Estados-membros das Nações Unidas não estão a implementar os ODS. Onde os direitos humanos e os direitos dos povos indígenas são constantemente ameaçados por Estados e empresas. Um mundo onde o extrativismo, incluindo hoje dos chamados minerais críticos, ameaça expropriar ainda mais comunidades. Temos de admitir que é mundo assustador para os jovens indígenas. E é por isso que o cerne desta edição, e a nossa motivação este ano, é a juventude indígena. É com este gesto que podemos honrar verdadeiramente a memória dos nossos antepassados.
Hindou Omarou Ibrahim, Presidente do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas
Discurso da Ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, durante a cerimónia de abertura do Fórum Permanente.
Trazemos muito boas recordações desta semana no Fórum Permanente, e voltamos inspirados pelos laços que estabelecemos e fortificámos. Ter a oportunidade de aprender com as conquistas e lutas dos povos indígenas, contadas nas suas próprias vozes, enche-nos de gratidão e energia para consolidar e tornar mais forte o nosso papel enquanto aliados.
Evento paralelo da Indigenous Environmental Network, durante o UNPFII.
Algumas das apresentações que mais nos impressionaram este ano foram de organizações indígenas empenhadas em denunciar falsas soluções climáticas, “soluções” que restringem os direitos dos povos indígenas. Estas organizações exigem que os direitos humanos estejam no centro da transição verde.
É fundamental seguir o trabalho de organizações como a SIRGE Coalition e a Indigenous Environmental Network. A SIRGE Coalition tem feito um trabalho notável junto de legisladores europeus, para garantir que as disposições relativas ao Consentimento Livre, Prévio e Informado sejam incluídas nas directivas europeias sobre o clima e a transição energética.
Evento paralelo da SIRGE Coalition e da FIMI, durante o UNPFII.
Esta edição do Fórum Permanente também nos deixou ainda mais convictos de que a titulação de terras é crucial para um cumprimento pleno dos direitos indígenas.
Ouvimos esta ideia ser realçada diversas vezes, tanto em apresentações em eventos paralelos, como em conversas com especialistas e líderes indígenas de todo o mundo. Sem o reconhecimento e titulação de terras indígenas não é possível alcançar a autodeterminação em relação às soluções climáticas, acabar com a marginalização e a assimilação ou garantir a segurança alimentar. Só dando este passo, se podem verdadeiramente resolver as questões transversais que estas comunidades enfrentam atualmente.
Jovens líderes indígenas da Amazônia num evento organizado pela CONFENIAE (Confederação das Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana)
Outro destaque do Fórum deste ano foi o foco no trabalho extraordinário dos jovens indígenas, e no que têm conseguido conquistar, um pouco por todo o mundo: a sua energia e criatividade, aliadas ao acesso às tecnologias digitais, transformaram completamente o movimento indígena global, fomentando novas pontes e alianças.
Da Amazónia, chegaram alguns dos testemunhos mais impactantes que ouvimos. Entre os quais, os do presidente da Nação Waorani, Juan Bai, do jovem ativista Waorani Inehue Nenquimo e de Taily Terena, da Amazônia brasileira. A Nação Waorani é um dos membros da Alianza Ceibo, cujo projeto para a criação de uma Escola Indígena de Defesa Territorial foi apoiado pela Azimuth.
Destacamos também as intervenções de Christine Kandie (directora da EIWEN, organização Endorois parceira da Azimuth) e de Sylvia Kokunda (líder Batwa e diretora da ABEG, a quem dedicámos um episódio recente do nosso podcast), que ouvimos num evento da Minority Rights Group International sobre o papel da juventude indígena como agente de mudança.
Também estivemos presentes no lançamento da última edição do The Indigenous World, publicado pelo International Working Group for Indigenous Affairs (IWGIA). Este guia continua a ser um recurso insubstituível para quem se interesse pelas questões ligadas aos direitos dos povos indígenas, apresentando artigos específicos focados nas comunidades indígenas de cada país.
E não podíamos deixar de destacar também o importante Project Access, coordenado por Roberto Múkaro Borrero e Rochelle Diver, com quem tivemos oportunidade de conversar durante o Fórum. Este projeto tem vindo a formar e capacitar jovens líderes indígenas, para que consigam navegar e tirar o maior partido possível da sua participação no Fórum Permanente.
“Revitalize the Roots” na edição de 2024 do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas

Cerimónia de abertura do UNPFII 2024 – Equipa da Azimuth World Foundation com Dominica Zhu (Global Wisdom Collective), Carson Kiburo (Jamii Asilia Centre) e Eric Kimalit (Endorois Welfare Council)
Em conjunto com os nossos parceiros Global Wisdom Collective e Jamii Asilia Centre, organizámos um evento no Fórum Permanente da ONU, em Nova Iorque, focado na preservação de sistemas de conhecimento indígena.
A nossa equipa regressou recentemente de Nova Iorque, onde participámos na edição deste ano do Fórum Permanente sobre Questões Indígenas, que teve lugar na sede da Nações Unidas.
À semelhança do ano passado, fomos convidados pelos nossos parceiros Global Wisdom Collective e Jamii Asilia Centre para co-organizar um evento paralelo, incluído na agenda oficial do Fórum, centrado nos resultados do projeto Revitalize the Roots, que a Azimuth tem vindo a apoiar desde 2022.
Neste vídeo, destacamos alguns momentos marcantes do evento, incluíndo as intervenções de Dominica Zhu (directora da Global Wisdom Collective), de Carson Kiburo (director da Jamii Asilia Centre), de Eric Kimalit (presidente do Endorois Welfare Council), e de Mariana Marques (presidente da Azimuth World Foundation):
Revitalize the Roots é um projeto pioneiro, focado na partilha intergeracional de conhecimento, cuja primeira edição – Revitalize the Roots: Bikaptorois – tem vindo a ser implementada em parceria com a comunidade Endorois, no Quénia, a comunidade de Carson Kiburo.
Depois de termos participado na cerimónia de entrega de diplomas do projecto, no Lago Bogoria, em fevereiro, foi um orgulho poder estar novamente ao lado da GWC e da JAC, desta vez em Nova Iorque, para partilhar com membros de outras organizações indígenas e aliadas as várias conquistas do Revitalize the Roots: Bikaptorois.
Um dos principais objetivos deste evento foi promover interações com outras organizações empenhadas na revitalização do conhecimento indígena, uma vez que Dominica e Carson planeiam expandir este projeto da Global Wisdom Collective. A ideia é replicar o modelo implementado no Quénia, adaptando-o a outras comunidades interessadas em preservar o seu conhecimento tradicional.
Hindou Omarou Ibrahim é eleita presidente do Fórum Permanente das Nações Unidas para as Questões Indígenas. É acompanhada na fotografia por Darío Mejía Montalvo, presidente do UNPFII de 2022 a 2024.
Ao entrar nas Nações Unidas para participar no Fórum Permanente, é impossível não pensar nas gerações de líderes e ativistas indígenas que lutaram para que este espaço fosse também seu.
Durante a cerimónia de abertura, vários intervenientes realçaram que os povos indígenas estão na vanguarda das soluções para as crises climática e da biodiversidade. Que apesar da representatividade indígena nos órgãos de tomada de decisão estar a crescer, é ainda muito insuficiente. Que o trabalho levado a cabo pela juventude indígena (tema do Fórum deste ano) é essencial no processo de construção de um mundo mais sustentável e justo.
Hindou Omarou Ibrahim foi eleita presidente do Fórum durante a cerimónia de abertura, na qual se puderam também escutar intervenções do vice-presidente da Bolívia, David Choquehuanca Céspedes, da ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, e do presidente da Assembleia Geral da ONU, Dennis Francis.
Deixamos um excerto do poderoso discurso de Hindou Ibrahim durante a cerimónia de abertura:
Cabe-nos apoiar, coletivamente, os jovens. Esta geração é a primeira a não ter vivido num mundo isento das graves consequências das alterações climáticas. Um pouco por toda a parte, o mundo enfrenta hoje a extinção em massa da biodiversidade, seja nas florestas, nos glaciares, nos arquipélagos ou nas savanas, nos desertos e nas montanhas, em todos os nossos ecossistemas. Os jovens vivem hoje num mundo cada vez mais violento e exortam-nos a trabalhar para a paz e para a reconciliação. Trata-se de um mundo onde a discriminação está novamente a aumentar, como estão também as desigualdades. Um mundo em que os Estados-membros das Nações Unidas não estão a implementar os ODS. Onde os direitos humanos e os direitos dos povos indígenas são constantemente ameaçados por Estados e empresas. Um mundo onde o extrativismo, incluindo hoje dos chamados minerais críticos, ameaça expropriar ainda mais comunidades. Temos de admitir que é mundo assustador para os jovens indígenas. E é por isso que o cerne desta edição, e a nossa motivação este ano, é a juventude indígena. É com este gesto que podemos honrar verdadeiramente a memória dos nossos antepassados.
Hindou Omarou Ibrahim, Presidente do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas
Discurso da Ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, durante a cerimónia de abertura do Fórum Permanente.
Trazemos muito boas recordações desta semana no Fórum Permanente, e voltamos inspirados pelos laços que estabelecemos e fortificámos. Ter a oportunidade de aprender com as conquistas e lutas dos povos indígenas, contadas nas suas próprias vozes, enche-nos de gratidão e energia para consolidar e tornar mais forte o nosso papel enquanto aliados.
Evento paralelo da Indigenous Environmental Network, durante o UNPFII.
Algumas das apresentações que mais nos impressionaram este ano foram de organizações indígenas empenhadas em denunciar falsas soluções climáticas, “soluções” que restringem os direitos dos povos indígenas. Estas organizações exigem que os direitos humanos estejam no centro da transição verde.
É fundamental seguir o trabalho de organizações como a SIRGE Coalition e a Indigenous Environmental Network. A SIRGE Coalition tem feito um trabalho notável junto de legisladores europeus, para garantir que as disposições relativas ao Consentimento Livre, Prévio e Informado sejam incluídas nas directivas europeias sobre o clima e a transição energética.
Evento paralelo da SIRGE Coalition e da FIMI, durante o UNPFII.
Esta edição do Fórum Permanente também nos deixou ainda mais convictos de que a titulação de terras é crucial para um cumprimento pleno dos direitos indígenas.
Ouvimos esta ideia ser realçada diversas vezes, tanto em apresentações em eventos paralelos, como em conversas com especialistas e líderes indígenas de todo o mundo. Sem o reconhecimento e titulação de terras indígenas não é possível alcançar a autodeterminação em relação às soluções climáticas, acabar com a marginalização e a assimilação ou garantir a segurança alimentar. Só dando este passo, se podem verdadeiramente resolver as questões transversais que estas comunidades enfrentam atualmente.
Jovens líderes indígenas da Amazônia num evento organizado pela CONFENIAE (Confederação das Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana)
Outro destaque do Fórum deste ano foi o foco no trabalho extraordinário dos jovens indígenas, e no que têm conseguido conquistar, um pouco por todo o mundo: a sua energia e criatividade, aliadas ao acesso às tecnologias digitais, transformaram completamente o movimento indígena global, fomentando novas pontes e alianças.
Da Amazónia, chegaram alguns dos testemunhos mais impactantes que ouvimos. Entre os quais, os do presidente da Nação Waorani, Juan Bai, do jovem ativista Waorani Inehue Nenquimo e de Taily Terena, da Amazônia brasileira. A Nação Waorani é um dos membros da Alianza Ceibo, cujo projeto para a criação de uma Escola Indígena de Defesa Territorial foi apoiado pela Azimuth.
Destacamos também as intervenções de Christine Kandie (directora da EIWEN, organização Endorois parceira da Azimuth) e de Sylvia Kokunda (líder Batwa e diretora da ABEG, a quem dedicámos um episódio recente do nosso podcast), que ouvimos num evento da Minority Rights Group International sobre o papel da juventude indígena como agente de mudança.
Também estivemos presentes no lançamento da última edição do The Indigenous World, publicado pelo International Working Group for Indigenous Affairs (IWGIA). Este guia continua a ser um recurso insubstituível para quem se interesse pelas questões ligadas aos direitos dos povos indígenas, apresentando artigos específicos focados nas comunidades indígenas de cada país.
E não podíamos deixar de destacar também o importante Project Access, coordenado por Roberto Múkaro Borrero e Rochelle Diver, com quem tivemos oportunidade de conversar durante o Fórum. Este projeto tem vindo a formar e capacitar jovens líderes indígenas, para que consigam navegar e tirar o maior partido possível da sua participação no Fórum Permanente.