Medicine Stone Health em Bismarck, Dakota do Norte

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Crédito – Sacred Pipe Resource Center

Bolsa de 25 000 USD
para ultrapassar desafios de saúde pública
que afectam populações indígenas
em contextos urbanos
e para preparar estas populações
para futuras ameaças à saúde pública
através da valorização de perspectivas tradicionais no campo da saúde
e dos ensinamentos do modelo Medicine Wheel

O QUE VAI ENCONTRAR NESTA PÁGINA

Nesta página, partilhamos informação sobre a comunidade servida por este projeto e os desafios específicos que enfrenta. Apresentamos o trabalho da Sacred Pipe Resource Center, a organização indígena que nos orgulhamos de ter apoiado, e descrevemos pormenorizadamente o projeto que desenvolveram com este apoio. Convidamo-lo a explorar este projeto, a tornar-se um aliado e a descobrir formas de apoiar diretamente o trabalho da Sacred Pipe.

 

 

 

 

 

 

 

A COMUNIDADE

Populações indígenas que residem na área urbana de Bismarck-Mandan

Vivem no Dakota do Norte cinco nações tribais reconhecidas pelo governo federal americano: as Nações Mandan, Hidatsa e Arikara (as chamadas “Três Tribos Afiliadas”), a Nação Spirit Lake, a Tribo Sioux de Standing Rock, o Grupo Indígena Chippewa de Turtle Mountain e a Nação Sisseton-Wahpeton Oyate. A maior população indígena urbana do Dakota do Norte vive na área metropolitana de Bismarck.

Embora haja uma enorme diversidade entre os povos indígenas norte-americanos, patente na riqueza das suas crenças, línguas e culturas próprias, há traços comuns que os unem. Um deles é a centralidade que o coletivismo ocupa na identidade destas comunidades.

Colonialismo de ocupação

Estima-se que antes do primeiro contacto com colonizadores europeus, a população indígena das Américas rondava os 60 milhões de indivíduos.

Um século mais tarde, durante o chamado “período da Grande Morte”, cerca de 90% da população indígena foi aniquilada. Para o genocídio das populações indígenas contribuíram guerras, a propagação de doenças infecciosas, deslocamentos forçados, a escravatura, o sistema prisional e a criação de internatos. Muitos destes acontecimentos traumáticos continuaram a repercutir nos séculos posteriores, mesmo que operando segundo novas aparências.

Embora se tenha assistido, nas décadas de 60 e 70 do século XX, a uma ascensão do ativismo nativo-americano enquanto movimento, os povos indígenas da América do Norte continuam a ser altamente marginalizados e desfavorecidos até aos dias de hoje.


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Trauma histórico, relação conflituosa

Investigações na área da epigenética têm revelado que traumas vividos pelos nossos antepassados ficam registados no nosso material genético. Carregamos geneticamente essas memórias, o que afecta o nosso modo de vida no presente. Ou seja, acontecimentos históricos traumáticos podem ser transmitidos intergeracionalmente, criando uma relação emocional de identificação entre os os jovens, os membros mais velhos e os antepassados de uma dada comunidade.

Os danos emocionais e psicológicos perpetrados sobre uma comunidade ao longo de gerações, acumulados ao longo de acontecimentos traumáticos consecutivos, trazem consigo custos altíssimos para o presente. Isto significa que, para além de muitos outros problemas, as comunidades indígenas nos Estados Unidos enfrentam taxas desproporcionalmente altas de problemas de saúde mental, de perturbações relacionadas com o consumo de substâncias, de stress pós-traumático ou de suicídio, quando comparadas com as verificadas entre a generalidade da população norte-americana.

Além disso, diferenças ao nível das cosmovisões e dos conceitos de desenvolvimento continuam a provocar enormes conflitos nas relações entre populações indígenas e não-indígenas. As questões relacionadas com a terra e com a utilização dos recursos naturais são apenas dois exemplos desta dinâmica de conflito.


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Desigualdade económica

De acordo com um relatório do Joint Economic Committee, “Todos os indicadores de bem-estar económico apontam uma conjuntura em que as populações indígenas são desproporcionalmente desfavorecidas, estão mais vulneráveis economicamente e encontram mais limitações no acesso a trajetórias de construção de riqueza”.

“Estas desigualdades, que há muito persistem, deixam as comunidades indígenas muito mais vulneráveis ao impacto negativo de choques económicos ou de crises de saúde pública.”

A população indígena que vive nas áreas metropolitanas enfrenta múltiplas barreiras no acesso a serviços e a habitação estável. No ramo da habitação urbana, há muito poucos serviços destinados a famílias e indivíduos indígenas. Ao nível dos serviços sociais, a falta de competência cultural das equipas impede frequentemente que o seu trabalho seja eficaz e culturalmente sensível. Estas situações geram uma grande desconfiança face a estas agências, por parte das comunidades indígenas que vivem nas zonas urbanas.


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OS DESAFIOS

Impactos múltiplos ao nível da saúde e prestação inadequada de cuidados médicos

O colonialismo de ocupação, os traumas históricos e as desvantagens económicas e sociais tiveram amplas ramificações na saúde dos povos indígenas da América do Norte, como, por exemplo, a perda do direito a determinar hábitos alimentares segundo os seus próprios costumes ou a produzir alimentos segundo métodos tradicionais; a pobreza e a consequente falta de acesso a alimentos de valor nutricional elevado; as mudanças culturais que ditaram novos estilos de vida sedentários.

Todos estes factores conduziram a que as populações indígenas estejam muito mais sujeitas a desenvolver diabetes tipo 2, hipertensão arterial, depressão, artrite e doenças cardíacas.

Para além disso, embora o Indian Health Service esteja incumbido de prestar cuidados de saúde aos membros de tribos reconhecidas, de acordo com as responsabilidades assumidas nos tratados com o governo federal, a verdade é que o Congresso americano tem sistematicamente retirado financiamento ao IHS, levando a graves limitações na prestação destes serviços.

Há uma grande semelhança entre os problemas de saúde que afectam as comunidades indígenas, quer vivam num contexto urbano ou em reservas indígenas. No entanto, os problemas de saúde nos contextos urbanos são exacerbados pelos desafios mentais e físicos que resultam da falta de proximidade com a família e com ambientes culturais tradicionais. Além disso, muitos dos serviços prestados pelo IHS estão cingidos às reservas indígenas e áreas adjacentes.

Historicamente, a boa forma física e a saúde abundavam entre as tribos do Dakota do Norte. As suas dietas incluíam a carne de búfalo e de veado, outros produtos da caça, bagas e vegetais, como o nabo e a cebola selvagens. No entanto, anos de refeições pouco saudáveis distribuídas pelo governo, os chamados “desertos alimentares”, os regimes alimentares assentes na pobreza e a falta de acesso a cuidados de saúde adequados, incluindo cuidados preventivos, conduziram a uma tempestade perfeita: ao nível da saúde pública, as comunidades indígenas encontram-se altamente vulneráveis a qualquer ameaça que possa surgir.

A população indígena que vive nas áreas urbanas até pode ter formas de aceder a alternativas mais saudáveis, ao nível da alimentação. Mas as barreiras ideológicas tornam-se um obstáculo significativo, fruto de uma habituação forçada a alimentos ricos em hidratos de carbono e açúcares, a uma alimentação pobre, e à chamada “comfort food”.


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A ORGANIZAÇÃO PARCEIRA

 

Sacred Pipe Resource Center

A Sacred Pipe Resource Center (SPRC) é uma ONG indígena com o estatuto 501(c)3, sediada no Dakota do Norte. A sua missão é identificar e apoiar as necessidades socioculturais, emocionais, mentais, espirituais e físicas das comunidades indígenas que vivem em Bismarck-Mandan e na área circundante, independentemente da tribo ou nação a que pertencem. A Sacred Pipe procura fortalecer indivíduos e famílias, promover a sua auto-suficiência e prestar serviços de articulação entre indígenas e não-indígenas, que contribuam para a coesão da comunidade.

Em 2007, um grupo de indivíduos indígenas que há muito residiam em Bismarck-Mandan decidiu fundar a Sacred Pipe, procurando assim estabelecer uma “casa-longe-de-casa” para todos aqueles que saíram das reservas indígenas e se mudaram para esta área urbana.

O que integra verdadeiramente a organização no tecido comunitário são os mecanismos que estão na base do seu modo de funcionamento, e que foram concebidos no sentido de dar voz à população indígenas.

As actividades da Sacred Pipe incluem sessões anuais dedicadas à visão geral da organização, reuniões mensais do Conselho Comunitário e a organização regular de eventos que mantêm a comunidade indígena informada e envolvida.

Recorrendo ao uso de dados, tanto quantitativos, como qualitativos, a organização procura contribuir para a melhoria dos serviços prestados à comunidade. Para colmatar lacunas nesses serviços, a Sacred Pipe estabelece frequentemente parcerias com entidades e organizações que já prestam serviços semelhantes, ou participa na angariação de fontes de financiamento.


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  • Community Engagement: “Honoring All Heroes” Armed Forces Day Parade organized and sponsored by the Integrated Cultural Events CET.

Neste episódio da série da Azimuth “Voices from the Ground”, exploramos o trabalho da Sacred Pipe Resource Center junto da população indígena da zona urbana de Bismarck-Mandan, no Dakota do Norte.

Cheryl Kary, diretora da Sacred Pipe, fala-nos de como o envolvimento da comunidade foi o ponto de partida para a organização, do seu modelo inovador alicerçado em Conselhos Comunitários, mas também da importância das oportunidades de financiamento que permitem às organizações indígenas conceber e implementar soluções criativas e pioneiras:

O PROJETO

 

Medicine Stone Health em Bismarck, Dakota do Norte

Com os fundos angariados, incluindo a bolsa da Azimuth World Foundation, a SPRC implementou um projeto inovador, que procurou mudar comportamentos e hábitos poucos saudáveis a partir de uma abordagem que colocasse a comunidade como coletivo no centro das suas atividades.

O nome do projeto é uma homenagem a Diane Medicine Stone, membro valioso da comunidade e parte integral do Conselho Comunitário de Saúde e Bem-Estar. Diane faleceu, vítima de cancro, antes do início do projecto, e este é uma forma de honrar a sua memória e de continuar o trabalho a que dedicou a sua vida: melhorar a saúde da população indígena na área urbana de Bismarck-Mandan. 

O projeto Medicine Stone Health:

  1. Procurou envolver cerca de 100 participantes indígenas, interessados em levar a cabo mudanças substanciais no seu estilo de vida, baseadas em novas práticas e novas maneiras de pensar sobre a saúde e a alimentação. O projeto forneceu materiais, como diários alimentares, e recolheu e analisou dados, o que permitiu acompanhar mensalmente as mudanças progressivas verificadas nos hábitos de cada participante.
  2. Recrutou um especialista na área da Equidade na Saúde, que conduziu sessões mensais de formação junto dos participantes indígenas.
  3. Desempenhou o papel de facilitador no processo de mudança de hábitos e comportamentos, oferecendo alternativas ao nível da alimentação, realizando eventos de recolha de alimentos tradicionais, e apresentado aos participantes novas técnicas e práticas culinárias.


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Reflexões ao concluir o projecto

Com este projecto, a Sacred Pipe envolveu a comunidade indígena na zona urbana de Bismarck-Mandan numa jornada transformadora: ao longo de 12 meses, promoveu melhorias significativas na saúde da comunidade, acompanhadas de importantes mudanças no seu estilo de vida e hábitos.

Cheryl Kary, a Diretora Executiva da organização, destacou a importância do projeto para a comunidade: “Serviu como um teste-piloto, muito significativo, que pode ser servir como base a futuros projectos de maior alcance.”

O projeto também tornou ainda mais claro o papel central das reuniões em grupo. É um modelo extremamente relevante para garantir o envolvimento dos participantes, que se foram sentindo cada vez mais confortáveis, à medida que se familiarizavam com os outros membros do grupo ao longo dos meses.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

No início do programa, cada participante recebeu o seu próprio dossier, com materiais que lhe permitiam documentar oi seu percurso e progresso. Os encontros mensais do projecto foram verdadeiras experiências comunitárias, em que módulos de formação eram seguidos de refeições partilhadas, fortalecendo a união e guiando os participantes para um objectivo comum.

Ao guiar os participantes em discussões complexas sobre temas como a descolonização das dietas, ou levando-os a explorar histórias ligadas ao tema da saúde, o projeto quis promover uma ligação mais estreita às problemáticas da saúde e do bem-estar no seio da comunidade. Mas as actividades práticas também foram essenciais para o êxito do projeto, e permitiram aos participantes experimentar novas formas de ligação à natureza e às suas tradições indígenas. Estas incluíram o cultivo de jardins interiores, a apresentação a uma grande variedade de ervas aromáticas e a colheita de ervas para preparar chás tradicionais.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

A Sacred Pipe organizou várias actividades para promover as hortas caseiras e os hábitos alimentares saudáveis. Forneceu sementes de diferentes plantas, como tomates, pepinos, abóboras, pimentos ou courgettes, a par de guias práticos sobre como manter uma horta caseira.

Os participantes puderam escolher as plantas que preferiam cultivar e incorporar nas suas dietas. Alecrim, orégãos, tomilho, manjericão, salva: através de outros módulos do projecto, procurou-se incluir nas hortas caseiras também a plantação destas ervas aromáticas frescas, e dar formação sobre os seus usos culinários.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

Um professor especialista em culturas indígenas guiou sessões sobre os métodos tradicionais de colheita de plantas para chás tradicionais e medicamentos. Os participantes puderam experimentar várias amostras, e até levar consigo alguns produtos, para que pudessem replicar algumas destas práticas e receitas em casa.

Após todas as atividades foram partilhados recursos que ajudassem os participantes a replicar em casa o que aprenderam, e que os capacitassem para monitorizar a sua saúde. Por exemplo, foram distribuídas simultaneamente brochuras sobre hidratação e garrafas de água reutilizáveis. Outro exemplo foi a distribuição de pedómetros, ferramentas para registo de caminhadas e medidores de glicose, no final do workshop dedicado à prevenção da diabetes através do exercício.

Também foram distribuídos quadros informativos metálicos, que juntam informações sobre alimentos de baixo índice glicémico, valores nutricionais dos alimentos, colesterol e gorduras saudáveis. Foi sempre dedicado algum tempo em cada actividade à explicação detalhada sobre como usar estes recursos para registar os indicadores de saúde de cada participante.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

A gestão do stress também foi abordada no decorrer do projecto. Foi convidado um massagista indígena, que falou pormenorizadamente sobre técnicas como a aromaterapia e a auto-massagem. Todos os participantes receberam ferramentas para medir a pressão arterial em casa, e houve até um participante sortudo que teve direito a uma massagem.

Durante as reuniões do projeto, os participantes usufruíam sempre de uma refeição saudável, e eram apresentados ingredientes saudáveis que facilmente podiam passar a ser uma alternativa aos alimentos habitualmente usados em casa. Todos os participantes saíram sempre destas sessões com novas receitas e ingredientes para testarem nas suas casas.

Colaborar para mudar: Fortalecer a voz da comunidade nas escolhas alimentares

O projeto estabeleceu uma colaboração com o Great Plains Food Bank, que irá certamente trazer mudanças muito positivas a longo prazo.

A Sacred Pipe organizou uma sessão durante a qual membros da comunidade puderam contribuir com sugestões para a lista de alimentos providenciados pelo banco alimentar. Foi somente através desta parceria com a Sacred Pipe que o banco alimentar conseguiu chegar directamente à população indígena.

A partilha de conhecimento como fortalecimento comunitário

Através do projecto, os participantes ganharam acesso a um vasto conjunto de conhecimentos sobre vários tópicos relevantes. É de destacar uma sessão em particular, onde esteve um elevado número de participantes, durante a qual uma professora de enfermagem deu formação sobre a prevenção da diabetes. A sessão incluiu a realização de testes para avaliar o risco de pré-diabetes entre os participantes, uma discussão sobre métodos de prevenção e a distribuição de materiais informativos sobre alimentos de baixo índice glicémico.

Também teve enorme adesão a sessão conduzida por um nutricionista indígena, que se focou em estratégias para comprar alimentos saudáveis com um orçamento limitado. Os participantes ficaram a compreender melhor a importância do planeamento e preparação de refeições, e aprenderam a identificar ingredientes pouco saudáveis, que muitas vezes passam despercebidos nos rótulos.

Nutrir o apoio à comunidade

Com o projeto Medicine Stone, a Sacred Pipe encontrou a motivação e as oportunidades necessárias para angariar fundos para o seu programa de apoio aos sem-abrigo. Durante um evento de angariação de fundos para este projecto, foi servida uma ceia tradicional “descolonizada”.

Alguns dos participantes do projecto Medicine Stone também estiveram envolvidos neste evento de angariação de fundos, que conseguiu juntar $4.000 USD para o programa Heart of Our Nation.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

Gestão de desafios na implementação do projecto Medicine Stone: Aprender, adaptar, melhorar

A equipa enfrentou vários desafios durante a implementação do projeto Medicine Stone. Inicialmente, o objetivo era recrutar 100 participantes para a totalidade do projecto, mas as limitações de espaço colocaram obstáculos significativos ao cumprimento desta meta. No entanto, pelo menos 30 participantes mostraram uma dedicação inabalável ao longo de todas as etapas do projeto.

Inicialmente, o projecto estava mais focado na criação de planos de saúde individuais, mas transição para um modelo de grupo revelou-se mais eficaz e mais adequeada aos recursos disponíveis.

Para a população indígena, os meios de transporte são limitados, e esse foi um obstáculo persistente, uma vez que para muitos participantes era difícil conseguir chegar ao escritório da Sacred Pipe, no extremo oeste de Mandan.

As condições meteorológicas também não foram favoráveis para a equipa de implementação do projecto, que por esse motivo se viu forçada a cancelar algumas das sessões planeadas. As condições meteorológicas dificultaram ainda mais o acesso de alguns participantes a meios de transporte que lhes permitissem chegar ao local das actividades. Infelizmente, estes são desafios recorrente em todos os projectos implementados pela Sacred Pipe.

Apesar destes obstáculos, houve um grupo base que se manteve totalmente envolvido e dedicado ao longo de todo o projecto, demonstrando o poder que reside na comunidade e os compromissos coletivos que se podem estabelecer em torno do bem-estar comum.

Tradições Nutritivas, uma Viagem Cheia de Sabores

Ao relatar histórias passadas durante a execução do projecto, a equipa da Sacred Pipe quis destacar o processo de introdução da carne de veado nas refeições dos participantes.

A carne de veado é uma carne tradicional, que era habitualmente utilizada em muitas comunidades indígenas do Dakota do Norte. Tal como a carne de bisonte, é uma carne mais magra e saudável do que a carne de vaca.

Quando a Sacred Pipe iniciou o projeto, foi contactada por Hunter Parisien, um estudante universitário indígena e ávido caçador. Hunter tinha uma grande quantidade de carne de veado que queria oferecer aos anciãos locais, e ao ler sobre o projecto decidiu falar com a Sacred Pipe.

Hunter doou várias embalagens de carne de veado, que tinham sido processadas e embaladas num talho local, e a Sacred Pipe distribui-as pelos participantes do projecto.

No entanto, antes de fazer esta distribuição, a equipa do projecto decidiu preparar uma refeição para o grupo. Disseram aos participantes que se tratava de uma versão mais saudável de chilli, sem revelarem que tinha sido confeccionado com carne de veado.

Todos os participantes elogiaram muito o prato, no final da refeição, e só depois ficaram a saber a lista de ingredientes.

“Os participantes ficaram muito surpreendidos. Alguns deles, que anteriormente tinham dito que não gostavam de carne de veado, até aceitaram a doação de carne de veado do jovem Hunter!”

– Cheryl Kary

Muitos dos participantes nunca tinham experimentado muitos dos ingredientes que acabaram por utilizaram ao longo do projecto, e descobriram que gostavam destes novos sabores. Muitos acabavam por pedir receitas onde pudessem incluir estes ingredientes até então desconhecidos. Este processo foi fundamental para que os participantes compreendessem que descolonizar as dietas não implica fazer mudanças drásticas de sabor nas suas refeições.

No fim de contas,

este projeto foi mais do que uma simples iniciativa na área da saúde; foi um testemunho do poder transformador da comunidade, da educação e das ligações culturais. Da forma como podem contribuir para uma procura holística do bem-estar.

O verdadeiro legado do projecto são os laços duradouros que esta caminhada em comunidade proporcionou.


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A Azimuth World Foundation não angaria fundos para si própria ou para os seus parceiros, nem recebe donativos. O link acima encaminha diretamente para a plataforma de doações da Sacred Pipe Resource Center.


About the author

Cheryl Ann Kary

Cheryl Ann Kary (Hunkuotawin) is an enrolled member of the Standing Rock Sioux Tribe. She holds a Ph.D. in Communication & Public Discourse from the University of North Dakota. Kary was awarded a Bush Foundation fellowship under which she developed and conducted a survey of off-reservation American Indians in the Bismarck-Mandan area. This work helped her establish the Sacred Pipe Resource Center (SPRC), a non-profit organization serving the American Indian population in Bismarck-Mandan, where she now serves as Executive Director. Kary has previously served as the Curriculum Development Specialist at the Native American Training Institute, the Research Director at United Tribes Technical College, the Executive Director for the Standing Rock Sioux Tribe and a Grants Management Specialist at the N. D. Department of Health.

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Medicine Stone Health em Bismarck, Dakota do Norte

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Crédito – Sacred Pipe Resource Center

Bolsa de 25 000 USD
para ultrapassar desafios de saúde pública
que afectam populações indígenas
em contextos urbanos
e para preparar estas populações
para futuras ameaças à saúde pública
através da valorização de perspectivas tradicionais no campo da saúde
e dos ensinamentos do modelo Medicine Wheel

O QUE VAI ENCONTRAR NESTA PÁGINA

Nesta página, partilhamos informação sobre a comunidade servida por este projeto e os desafios específicos que enfrenta. Apresentamos o trabalho da Sacred Pipe Resource Center, a organização indígena que nos orgulhamos de ter apoiado, e descrevemos pormenorizadamente o projeto que desenvolveram com este apoio. Convidamo-lo a explorar este projeto, a tornar-se um aliado e a descobrir formas de apoiar diretamente o trabalho da Sacred Pipe.

 

 

 

 

 

 

 

A COMUNIDADE

Populações indígenas que residem na área urbana de Bismarck-Mandan

Vivem no Dakota do Norte cinco nações tribais reconhecidas pelo governo federal americano: as Nações Mandan, Hidatsa e Arikara (as chamadas “Três Tribos Afiliadas”), a Nação Spirit Lake, a Tribo Sioux de Standing Rock, o Grupo Indígena Chippewa de Turtle Mountain e a Nação Sisseton-Wahpeton Oyate. A maior população indígena urbana do Dakota do Norte vive na área metropolitana de Bismarck.

Embora haja uma enorme diversidade entre os povos indígenas norte-americanos, patente na riqueza das suas crenças, línguas e culturas próprias, há traços comuns que os unem. Um deles é a centralidade que o coletivismo ocupa na identidade destas comunidades.

Colonialismo de ocupação

Estima-se que antes do primeiro contacto com colonizadores europeus, a população indígena das Américas rondava os 60 milhões de indivíduos.

Um século mais tarde, durante o chamado “período da Grande Morte”, cerca de 90% da população indígena foi aniquilada. Para o genocídio das populações indígenas contribuíram guerras, a propagação de doenças infecciosas, deslocamentos forçados, a escravatura, o sistema prisional e a criação de internatos. Muitos destes acontecimentos traumáticos continuaram a repercutir nos séculos posteriores, mesmo que operando segundo novas aparências.

Embora se tenha assistido, nas décadas de 60 e 70 do século XX, a uma ascensão do ativismo nativo-americano enquanto movimento, os povos indígenas da América do Norte continuam a ser altamente marginalizados e desfavorecidos até aos dias de hoje.


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Trauma histórico, relação conflituosa

Investigações na área da epigenética têm revelado que traumas vividos pelos nossos antepassados ficam registados no nosso material genético. Carregamos geneticamente essas memórias, o que afecta o nosso modo de vida no presente. Ou seja, acontecimentos históricos traumáticos podem ser transmitidos intergeracionalmente, criando uma relação emocional de identificação entre os os jovens, os membros mais velhos e os antepassados de uma dada comunidade.

Os danos emocionais e psicológicos perpetrados sobre uma comunidade ao longo de gerações, acumulados ao longo de acontecimentos traumáticos consecutivos, trazem consigo custos altíssimos para o presente. Isto significa que, para além de muitos outros problemas, as comunidades indígenas nos Estados Unidos enfrentam taxas desproporcionalmente altas de problemas de saúde mental, de perturbações relacionadas com o consumo de substâncias, de stress pós-traumático ou de suicídio, quando comparadas com as verificadas entre a generalidade da população norte-americana.

Além disso, diferenças ao nível das cosmovisões e dos conceitos de desenvolvimento continuam a provocar enormes conflitos nas relações entre populações indígenas e não-indígenas. As questões relacionadas com a terra e com a utilização dos recursos naturais são apenas dois exemplos desta dinâmica de conflito.


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Desigualdade económica

De acordo com um relatório do Joint Economic Committee, “Todos os indicadores de bem-estar económico apontam uma conjuntura em que as populações indígenas são desproporcionalmente desfavorecidas, estão mais vulneráveis economicamente e encontram mais limitações no acesso a trajetórias de construção de riqueza”.

“Estas desigualdades, que há muito persistem, deixam as comunidades indígenas muito mais vulneráveis ao impacto negativo de choques económicos ou de crises de saúde pública.”

A população indígena que vive nas áreas metropolitanas enfrenta múltiplas barreiras no acesso a serviços e a habitação estável. No ramo da habitação urbana, há muito poucos serviços destinados a famílias e indivíduos indígenas. Ao nível dos serviços sociais, a falta de competência cultural das equipas impede frequentemente que o seu trabalho seja eficaz e culturalmente sensível. Estas situações geram uma grande desconfiança face a estas agências, por parte das comunidades indígenas que vivem nas zonas urbanas.


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OS DESAFIOS

Impactos múltiplos ao nível da saúde e prestação inadequada de cuidados médicos

O colonialismo de ocupação, os traumas históricos e as desvantagens económicas e sociais tiveram amplas ramificações na saúde dos povos indígenas da América do Norte, como, por exemplo, a perda do direito a determinar hábitos alimentares segundo os seus próprios costumes ou a produzir alimentos segundo métodos tradicionais; a pobreza e a consequente falta de acesso a alimentos de valor nutricional elevado; as mudanças culturais que ditaram novos estilos de vida sedentários.

Todos estes factores conduziram a que as populações indígenas estejam muito mais sujeitas a desenvolver diabetes tipo 2, hipertensão arterial, depressão, artrite e doenças cardíacas.

Para além disso, embora o Indian Health Service esteja incumbido de prestar cuidados de saúde aos membros de tribos reconhecidas, de acordo com as responsabilidades assumidas nos tratados com o governo federal, a verdade é que o Congresso americano tem sistematicamente retirado financiamento ao IHS, levando a graves limitações na prestação destes serviços.

Há uma grande semelhança entre os problemas de saúde que afectam as comunidades indígenas, quer vivam num contexto urbano ou em reservas indígenas. No entanto, os problemas de saúde nos contextos urbanos são exacerbados pelos desafios mentais e físicos que resultam da falta de proximidade com a família e com ambientes culturais tradicionais. Além disso, muitos dos serviços prestados pelo IHS estão cingidos às reservas indígenas e áreas adjacentes.

Historicamente, a boa forma física e a saúde abundavam entre as tribos do Dakota do Norte. As suas dietas incluíam a carne de búfalo e de veado, outros produtos da caça, bagas e vegetais, como o nabo e a cebola selvagens. No entanto, anos de refeições pouco saudáveis distribuídas pelo governo, os chamados “desertos alimentares”, os regimes alimentares assentes na pobreza e a falta de acesso a cuidados de saúde adequados, incluindo cuidados preventivos, conduziram a uma tempestade perfeita: ao nível da saúde pública, as comunidades indígenas encontram-se altamente vulneráveis a qualquer ameaça que possa surgir.

A população indígena que vive nas áreas urbanas até pode ter formas de aceder a alternativas mais saudáveis, ao nível da alimentação. Mas as barreiras ideológicas tornam-se um obstáculo significativo, fruto de uma habituação forçada a alimentos ricos em hidratos de carbono e açúcares, a uma alimentação pobre, e à chamada “comfort food”.


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A ORGANIZAÇÃO PARCEIRA

 

Sacred Pipe Resource Center

A Sacred Pipe Resource Center (SPRC) é uma ONG indígena com o estatuto 501(c)3, sediada no Dakota do Norte. A sua missão é identificar e apoiar as necessidades socioculturais, emocionais, mentais, espirituais e físicas das comunidades indígenas que vivem em Bismarck-Mandan e na área circundante, independentemente da tribo ou nação a que pertencem. A Sacred Pipe procura fortalecer indivíduos e famílias, promover a sua auto-suficiência e prestar serviços de articulação entre indígenas e não-indígenas, que contribuam para a coesão da comunidade.

Em 2007, um grupo de indivíduos indígenas que há muito residiam em Bismarck-Mandan decidiu fundar a Sacred Pipe, procurando assim estabelecer uma “casa-longe-de-casa” para todos aqueles que saíram das reservas indígenas e se mudaram para esta área urbana.

O que integra verdadeiramente a organização no tecido comunitário são os mecanismos que estão na base do seu modo de funcionamento, e que foram concebidos no sentido de dar voz à população indígenas.

As actividades da Sacred Pipe incluem sessões anuais dedicadas à visão geral da organização, reuniões mensais do Conselho Comunitário e a organização regular de eventos que mantêm a comunidade indígena informada e envolvida.

Recorrendo ao uso de dados, tanto quantitativos, como qualitativos, a organização procura contribuir para a melhoria dos serviços prestados à comunidade. Para colmatar lacunas nesses serviços, a Sacred Pipe estabelece frequentemente parcerias com entidades e organizações que já prestam serviços semelhantes, ou participa na angariação de fontes de financiamento.


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  • Community Engagement: “Honoring All Heroes” Armed Forces Day Parade organized and sponsored by the Integrated Cultural Events CET.

Neste episódio da série da Azimuth “Voices from the Ground”, exploramos o trabalho da Sacred Pipe Resource Center junto da população indígena da zona urbana de Bismarck-Mandan, no Dakota do Norte.

Cheryl Kary, diretora da Sacred Pipe, fala-nos de como o envolvimento da comunidade foi o ponto de partida para a organização, do seu modelo inovador alicerçado em Conselhos Comunitários, mas também da importância das oportunidades de financiamento que permitem às organizações indígenas conceber e implementar soluções criativas e pioneiras:

O PROJETO

 

Medicine Stone Health em Bismarck, Dakota do Norte

Com os fundos angariados, incluindo a bolsa da Azimuth World Foundation, a SPRC implementou um projeto inovador, que procurou mudar comportamentos e hábitos poucos saudáveis a partir de uma abordagem que colocasse a comunidade como coletivo no centro das suas atividades.

O nome do projeto é uma homenagem a Diane Medicine Stone, membro valioso da comunidade e parte integral do Conselho Comunitário de Saúde e Bem-Estar. Diane faleceu, vítima de cancro, antes do início do projecto, e este é uma forma de honrar a sua memória e de continuar o trabalho a que dedicou a sua vida: melhorar a saúde da população indígena na área urbana de Bismarck-Mandan. 

O projeto Medicine Stone Health:

  1. Procurou envolver cerca de 100 participantes indígenas, interessados em levar a cabo mudanças substanciais no seu estilo de vida, baseadas em novas práticas e novas maneiras de pensar sobre a saúde e a alimentação. O projeto forneceu materiais, como diários alimentares, e recolheu e analisou dados, o que permitiu acompanhar mensalmente as mudanças progressivas verificadas nos hábitos de cada participante.
  2. Recrutou um especialista na área da Equidade na Saúde, que conduziu sessões mensais de formação junto dos participantes indígenas.
  3. Desempenhou o papel de facilitador no processo de mudança de hábitos e comportamentos, oferecendo alternativas ao nível da alimentação, realizando eventos de recolha de alimentos tradicionais, e apresentado aos participantes novas técnicas e práticas culinárias.


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Reflexões ao concluir o projecto

Com este projecto, a Sacred Pipe envolveu a comunidade indígena na zona urbana de Bismarck-Mandan numa jornada transformadora: ao longo de 12 meses, promoveu melhorias significativas na saúde da comunidade, acompanhadas de importantes mudanças no seu estilo de vida e hábitos.

Cheryl Kary, a Diretora Executiva da organização, destacou a importância do projeto para a comunidade: “Serviu como um teste-piloto, muito significativo, que pode ser servir como base a futuros projectos de maior alcance.”

O projeto também tornou ainda mais claro o papel central das reuniões em grupo. É um modelo extremamente relevante para garantir o envolvimento dos participantes, que se foram sentindo cada vez mais confortáveis, à medida que se familiarizavam com os outros membros do grupo ao longo dos meses.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

No início do programa, cada participante recebeu o seu próprio dossier, com materiais que lhe permitiam documentar oi seu percurso e progresso. Os encontros mensais do projecto foram verdadeiras experiências comunitárias, em que módulos de formação eram seguidos de refeições partilhadas, fortalecendo a união e guiando os participantes para um objectivo comum.

Ao guiar os participantes em discussões complexas sobre temas como a descolonização das dietas, ou levando-os a explorar histórias ligadas ao tema da saúde, o projeto quis promover uma ligação mais estreita às problemáticas da saúde e do bem-estar no seio da comunidade. Mas as actividades práticas também foram essenciais para o êxito do projeto, e permitiram aos participantes experimentar novas formas de ligação à natureza e às suas tradições indígenas. Estas incluíram o cultivo de jardins interiores, a apresentação a uma grande variedade de ervas aromáticas e a colheita de ervas para preparar chás tradicionais.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

A Sacred Pipe organizou várias actividades para promover as hortas caseiras e os hábitos alimentares saudáveis. Forneceu sementes de diferentes plantas, como tomates, pepinos, abóboras, pimentos ou courgettes, a par de guias práticos sobre como manter uma horta caseira.

Os participantes puderam escolher as plantas que preferiam cultivar e incorporar nas suas dietas. Alecrim, orégãos, tomilho, manjericão, salva: através de outros módulos do projecto, procurou-se incluir nas hortas caseiras também a plantação destas ervas aromáticas frescas, e dar formação sobre os seus usos culinários.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

Um professor especialista em culturas indígenas guiou sessões sobre os métodos tradicionais de colheita de plantas para chás tradicionais e medicamentos. Os participantes puderam experimentar várias amostras, e até levar consigo alguns produtos, para que pudessem replicar algumas destas práticas e receitas em casa.

Após todas as atividades foram partilhados recursos que ajudassem os participantes a replicar em casa o que aprenderam, e que os capacitassem para monitorizar a sua saúde. Por exemplo, foram distribuídas simultaneamente brochuras sobre hidratação e garrafas de água reutilizáveis. Outro exemplo foi a distribuição de pedómetros, ferramentas para registo de caminhadas e medidores de glicose, no final do workshop dedicado à prevenção da diabetes através do exercício.

Também foram distribuídos quadros informativos metálicos, que juntam informações sobre alimentos de baixo índice glicémico, valores nutricionais dos alimentos, colesterol e gorduras saudáveis. Foi sempre dedicado algum tempo em cada actividade à explicação detalhada sobre como usar estes recursos para registar os indicadores de saúde de cada participante.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

A gestão do stress também foi abordada no decorrer do projecto. Foi convidado um massagista indígena, que falou pormenorizadamente sobre técnicas como a aromaterapia e a auto-massagem. Todos os participantes receberam ferramentas para medir a pressão arterial em casa, e houve até um participante sortudo que teve direito a uma massagem.

Durante as reuniões do projeto, os participantes usufruíam sempre de uma refeição saudável, e eram apresentados ingredientes saudáveis que facilmente podiam passar a ser uma alternativa aos alimentos habitualmente usados em casa. Todos os participantes saíram sempre destas sessões com novas receitas e ingredientes para testarem nas suas casas.

Colaborar para mudar: Fortalecer a voz da comunidade nas escolhas alimentares

O projeto estabeleceu uma colaboração com o Great Plains Food Bank, que irá certamente trazer mudanças muito positivas a longo prazo.

A Sacred Pipe organizou uma sessão durante a qual membros da comunidade puderam contribuir com sugestões para a lista de alimentos providenciados pelo banco alimentar. Foi somente através desta parceria com a Sacred Pipe que o banco alimentar conseguiu chegar directamente à população indígena.

A partilha de conhecimento como fortalecimento comunitário

Através do projecto, os participantes ganharam acesso a um vasto conjunto de conhecimentos sobre vários tópicos relevantes. É de destacar uma sessão em particular, onde esteve um elevado número de participantes, durante a qual uma professora de enfermagem deu formação sobre a prevenção da diabetes. A sessão incluiu a realização de testes para avaliar o risco de pré-diabetes entre os participantes, uma discussão sobre métodos de prevenção e a distribuição de materiais informativos sobre alimentos de baixo índice glicémico.

Também teve enorme adesão a sessão conduzida por um nutricionista indígena, que se focou em estratégias para comprar alimentos saudáveis com um orçamento limitado. Os participantes ficaram a compreender melhor a importância do planeamento e preparação de refeições, e aprenderam a identificar ingredientes pouco saudáveis, que muitas vezes passam despercebidos nos rótulos.

Nutrir o apoio à comunidade

Com o projeto Medicine Stone, a Sacred Pipe encontrou a motivação e as oportunidades necessárias para angariar fundos para o seu programa de apoio aos sem-abrigo. Durante um evento de angariação de fundos para este projecto, foi servida uma ceia tradicional “descolonizada”.

Alguns dos participantes do projecto Medicine Stone também estiveram envolvidos neste evento de angariação de fundos, que conseguiu juntar $4.000 USD para o programa Heart of Our Nation.

Crédito – Sacred Pipe Resource Center

Gestão de desafios na implementação do projecto Medicine Stone: Aprender, adaptar, melhorar

A equipa enfrentou vários desafios durante a implementação do projeto Medicine Stone. Inicialmente, o objetivo era recrutar 100 participantes para a totalidade do projecto, mas as limitações de espaço colocaram obstáculos significativos ao cumprimento desta meta. No entanto, pelo menos 30 participantes mostraram uma dedicação inabalável ao longo de todas as etapas do projeto.

Inicialmente, o projecto estava mais focado na criação de planos de saúde individuais, mas transição para um modelo de grupo revelou-se mais eficaz e mais adequeada aos recursos disponíveis.

Para a população indígena, os meios de transporte são limitados, e esse foi um obstáculo persistente, uma vez que para muitos participantes era difícil conseguir chegar ao escritório da Sacred Pipe, no extremo oeste de Mandan.

As condições meteorológicas também não foram favoráveis para a equipa de implementação do projecto, que por esse motivo se viu forçada a cancelar algumas das sessões planeadas. As condições meteorológicas dificultaram ainda mais o acesso de alguns participantes a meios de transporte que lhes permitissem chegar ao local das actividades. Infelizmente, estes são desafios recorrente em todos os projectos implementados pela Sacred Pipe.

Apesar destes obstáculos, houve um grupo base que se manteve totalmente envolvido e dedicado ao longo de todo o projecto, demonstrando o poder que reside na comunidade e os compromissos coletivos que se podem estabelecer em torno do bem-estar comum.

Tradições Nutritivas, uma Viagem Cheia de Sabores

Ao relatar histórias passadas durante a execução do projecto, a equipa da Sacred Pipe quis destacar o processo de introdução da carne de veado nas refeições dos participantes.

A carne de veado é uma carne tradicional, que era habitualmente utilizada em muitas comunidades indígenas do Dakota do Norte. Tal como a carne de bisonte, é uma carne mais magra e saudável do que a carne de vaca.

Quando a Sacred Pipe iniciou o projeto, foi contactada por Hunter Parisien, um estudante universitário indígena e ávido caçador. Hunter tinha uma grande quantidade de carne de veado que queria oferecer aos anciãos locais, e ao ler sobre o projecto decidiu falar com a Sacred Pipe.

Hunter doou várias embalagens de carne de veado, que tinham sido processadas e embaladas num talho local, e a Sacred Pipe distribui-as pelos participantes do projecto.

No entanto, antes de fazer esta distribuição, a equipa do projecto decidiu preparar uma refeição para o grupo. Disseram aos participantes que se tratava de uma versão mais saudável de chilli, sem revelarem que tinha sido confeccionado com carne de veado.

Todos os participantes elogiaram muito o prato, no final da refeição, e só depois ficaram a saber a lista de ingredientes.

“Os participantes ficaram muito surpreendidos. Alguns deles, que anteriormente tinham dito que não gostavam de carne de veado, até aceitaram a doação de carne de veado do jovem Hunter!”

– Cheryl Kary

Muitos dos participantes nunca tinham experimentado muitos dos ingredientes que acabaram por utilizaram ao longo do projecto, e descobriram que gostavam destes novos sabores. Muitos acabavam por pedir receitas onde pudessem incluir estes ingredientes até então desconhecidos. Este processo foi fundamental para que os participantes compreendessem que descolonizar as dietas não implica fazer mudanças drásticas de sabor nas suas refeições.

No fim de contas,

este projeto foi mais do que uma simples iniciativa na área da saúde; foi um testemunho do poder transformador da comunidade, da educação e das ligações culturais. Da forma como podem contribuir para uma procura holística do bem-estar.

O verdadeiro legado do projecto são os laços duradouros que esta caminhada em comunidade proporcionou.


External Links

A Azimuth World Foundation não angaria fundos para si própria ou para os seus parceiros, nem recebe donativos. O link acima encaminha diretamente para a plataforma de doações da Sacred Pipe Resource Center.


About the author

Cheryl Ann Kary

Cheryl Ann Kary (Hunkuotawin) is an enrolled member of the Standing Rock Sioux Tribe. She holds a Ph.D. in Communication & Public Discourse from the University of North Dakota. Kary was awarded a Bush Foundation fellowship under which she developed and conducted a survey of off-reservation American Indians in the Bismarck-Mandan area. This work helped her establish the Sacred Pipe Resource Center (SPRC), a non-profit organization serving the American Indian population in Bismarck-Mandan, where she now serves as Executive Director. Kary has previously served as the Curriculum Development Specialist at the Native American Training Institute, the Research Director at United Tribes Technical College, the Executive Director for the Standing Rock Sioux Tribe and a Grants Management Specialist at the N. D. Department of Health.

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